Há sempre uma qualidade nos contos, que os torna superiores aos grandes romances, se uns e outros sĂŁo medĂocres: Ă© serem curtos.
Passagens de Machado de Assis
272 resultadosUma lágrima brotou-lhe dos olhos, quente de todo o calor de uma alma apaixonada e sensĂvel; brotou, deligou-se e foi cair no papel.
Soneto De Natal
Um homem, – era aquela noite amiga,
Noite cristĂŁ, berço do Nazareno, –
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristĂŁ, berço do Nazareno.Escolheu o soneto… A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena nĂŁo acode ao gesto seu.E, em vĂŁo lutando contra o metro adverso,
SĂł lhe saiu este pequeno verso:
“Mudaria o Natal ou mudei eu?”
Ao vencedor as batatas!
Camões IV
Um dia, junto Ă foz de brando e amigo
Rio de estranhas gentes habitado,
Pelos mares aspérrimos levado,
Salvaste o livro que viveu contigo.E esse que foi Ă s ondas arrancado,
Já livre agora do mortal perigo,
Serve de arca imortal, de eterno abrigo,
Não só a ti, mas ao teu berço amado.Assim, um homem só, naquele dia,
Naquele escasso ponto do universo,
LĂngua, histĂłria, nação, armas, poesia,Salva das frias mĂŁos do tempo adverso.
E tudo aquilo agora o desafia.
E tão sublime preço cabe em verso.
O vĂcio Ă© muitas vezes o estrume da virtude.
Umas coisas nascem de outras, enroscam-se, desatam-se, confundem-se, perdem-se, e o tempo vai andando sem se perder de si…
Juntos vimos florescerem as primeiras ilusões, e juntos vimos dissiparem-se as últimas.
Visio
Eras pálida. E os cabelos,
Aéreos, soltos novelos,
Sobre as espáduas caĂam…
Os olhos meio cerrados
De volĂşpia e de ternura
Entre lágrimas luziam…
E os braços entrelaçados,
Como cingindo a ventura,
Ao teu seio me cingiam…Depois, naquele delĂrio,
Suave, doce martĂrio
De pouquĂssimos instantes,
Os teus lábios sequiosos,
Frios, trĂŞmulos, trocavam
Os beijos mais delirantes,
E no supremo dos gozos
Ante os anjos se casavam
Nossas almas palpitantes…Depois… depois a verdade,
A fria realidade,
A solidĂŁo, a tristeza;
Daquele sonho desperto,
Olhei… silĂŞncio de morte
Respirava a natureza —
Era a terra, era o deserto,
Fora-se o doce transporte,
Restava a fria certeza.Desfizera-se a mentira:
Tudo aos meus olhos fugira;
Tu e o teu olhar ardente,
Lábios trêmulos e frios,
O abraço longo e apertado,
O beijo doce e veemente;
Restavam meus desvarios,
E o incessante cuidado,
E a fantasia doente.E agora te vejo. E fria
Tão outra estás da que eu via
Naquele sonho encantado!
A vaidade Ă© um princĂpio de corrupção.
A Higiene é filha das podridões seculares
Lágrimas não são argumentos.