Os Anos Quarenta

Amo-te mais quando olho quando
para a torneira do gĂĄs quando estou nu Ă  noite quando
e começo a mexer em pùnico os ossos da mão direita
hĂĄ domingos hĂĄ a infĂąncia em que se parou numas escadas altas
ouvia-se a guerra ia-se para a cama por causa do ciclone
e quando o vento vem e decepa e quando
as ĂĄrvores da rua Ă© a mĂŁe que recorta
uns papéis
brancos para colar nos vidros
ou quando (da capo) esse homem
nu Ă  noite quando olha

e vejo vĂȘ-se
o indicador direito
manchado de nicotina

depois uma vez desfila
a vitĂłria! surpreendo-os na sala
que me dĂŁo dinheiro e corro a comprar barros
na feira e quando quando coisas assim
partia logo e isso era a tristeza

volto a pensar: que queria eu na infĂąncia
o sol? outro nome sobre o meu tĂŁo frĂĄgil?

amo-te mais Ă  noite portanto
quando dobro as calças e começo
quando esse gesto Ăștil quando
bate numas pernas e vĂȘ-se
de trinta e cinco anos