quando a ternura for a Ășnica regra da manhĂŁ
um dia, quando a ternura for a Ășnica regra da manhĂŁ,
acordarei entre os teus braços. a tua pele serå talvez demasiado bela.
e a luz compreenderĂĄ a impossĂvel compreensĂŁo do amor.
um dia, quando a chuva secar na memĂłria, quando o inverno for
tĂŁo distante, quando o frio responder devagar com a voz arrastada
de um velho, estarei contigo e cantarĂŁo pĂĄssaros no parapeito da
nossa janela. sim, cantarĂŁo pĂĄssaros, haverĂĄ flores, mas nada disso
serå culpa minha, porque eu acordarei nos teus braços e não direi
nem uma palavra, nem o princĂpio de uma palavra, para nĂŁo estragar
a perfeição da felicidade.
Poemas sobre Chuva de JosĂ© LuĂs Peixoto
2 resultadosfingir que estĂĄ tudo bem
fingir que estĂĄ tudo bem: o corpo rasgado e vestido
com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro
do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir
que estĂĄ tudo bem: olhas-me e sĂł tu sabes: na rua onde
os nossos olhares se encontram Ă© noite: as pessoas
nĂŁo imaginam: sĂŁo tĂŁo ridĂculas as pessoas, tĂŁo
desprezĂveis: as pessoas falam e nĂŁo imaginam: nĂłs
olhamo-nos: fingir que estĂĄ tudo bem: o sangue a ferver
sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de
medo nos lĂĄbios a sorrir: serĂĄ que vou morrer?, pergunto
dentro de mim: serĂĄ que vou morrer? olhas-me e sĂł tu sabes:
ferros em brasa, fogo, silĂȘncio e chuva que nĂŁo se pode dizer:
amor e morte: fingir que estĂĄ tudo bem: ter de sorrir: um
oceano que nos queima, um incĂȘndio que nos afoga.