Poemas sobre ĂŤdolos

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Poemas de ídolos escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Rei Destronado

O teu lugar vazĂŁo!… E esteve cheio,
Cheio de mocidade e de ternura!
Como brilhava a tua formosura!
Que luz divina te doirava o seio!

Quando a camisa tépida despias,
– Sob o reflexo do cabelo louro,
De pé, na alcova, ardias e fulgias
Como um Ă­dolo de ouro.

Que fundo o fogo do primeiro beijo,
Que eu te arrancava ao lábio recendente!
Morria o meu desejo… outro desejo
Nascia mais ardente.

Domada a febre, lânguida, em meus braços
Dormias, sobre os linhos revolvidos,
Inda cheios dos Ăşltimos gemidos,
Inda quentes dos Ăşltimos abraços…

Tudo quanto eu pedira e ambicionara,
Tudo meus dedos e meus olhos calmos
Gozavam satisfeitos nos seis palmos
De tua carne saborosa e clara:

Reino perdido! glĂłria dissipada
Tão loucamente! A alcova está deserta,
Mas inda com o teu cheiro perfumada,
Do teu fulgor coberta…

Nem Sequer Sou Poeira

NĂŁo quero ser quem sou. A avara sorte
Quis-me oferecer o século dezassete,
O pĂł e a rotina de Castela,
As coisas repetidas, a manhĂŁ
Que, prometendo o hoje, dá a véspera,
A palestra do padre ou do barbeiro,
A solidĂŁo que o tempo vai deixando
E uma vaga sobrinha analfabeta.
Já sou entrado em anos. Uma página
Casual revelou-me vozes novas,
Amadis e Urganda, a perseguir-me.
Vendi as terras e comprei os livros
Que narram por inteiro essas empresas:
O Graal, que recolheu o sangue humano
Que o Filho derramou pra nos salvar,
Maomé e o seu ídolo de ouro,
Os ferros, as ameias, as bandeiras
E as operações e truques de magia.
Cavaleiros cristãos lá percorriam
Os reinos que há na terra, na vingança
Da ultrajada honra ou querendo impor
A justiça no fio de cada espada.
Queira Deus que um enviado restitua
Ao nosso tempo esse exercĂ­cio nobre.
Os meus sonhos avistam-no. Senti-o
Na minha carne triste e solitária.
Seu nome ainda nĂŁo sei. Mas eu, Quijano,
Serei o paladino.

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O que se Prende no Tempo

O que se prende no tempo
é do tempo a árvore crua um ídolo sem desejos
e os ĂłrfĂŁos feitos de um osso apenas

Entre duas crianças amestradas entre duas
moléculas frondosas
de quem tirei os segredos

Já quasi até Morria

Já quasi até morria
C’os olhos nos da amada.
E ela que se sentia
NĂŁo menos abrasada:
– “Ai, caro Atfes! – dizia –
NĂŁo morras inda, espera
Que eu contigo morrer também quisera”
A ânsia com que acabava
A vida, Atfes, refreia,
E, enquanto a dilatava,
Morte maior o anseia.
Os olhos nĂŁo tirava
Dos do Ă­dolo querido,
Nos quais bebia o NĂ©ctar diluĂ­do.

Quando a gentil Pastora,
Sentindo já chegada
Do doce gosto a hora,
Com a vista perturbada
Disse, tremendo: – “Agora
Morre, que eu morro, amor”
– “E eu – disse ele – contigo”
Viram-se desta sorte
Os dois finos amantes
Mortos ambos de um tal corte;
E os golpes penetrantes
Desta casta de morte
Tanto lhe agradaram,
Que para mais morrer recuscitaram.

Como Nossos Pais

NĂŁo quero lhe falar, meu grande amor
Das coisas que aprendi nos discos
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver Ă© melhor que sonhar
E eu sei que o amor Ă© uma coisa boa
Mas também sei que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa
Por isso cuidado, meu bem, há perigo na esquina!
Eles venceram e o sinal está fechado pra nós
Que somos jovens
Para abraçar seu irmão e beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço, o seu lábio e a sua voz
VocĂŞ me pergunta pela minha paixĂŁo
Digo que estou encantada como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
NĂŁo vou voltar pro sertĂŁo
Pois vejo vir vindo no vento
O cheiro da nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva do meu coração
Já faz tempo eu vi você na rua cabelo ao vento gente jovem reunida
Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais
Minha dor Ă© perceber que apesar de termos feito tudo que fizemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
Como nossos pais
Nossos Ă­dolos ainda sĂŁo os mesmos e as aparĂŞncias nĂŁo enganam,

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