Poemas sobre Mal de Luís de CamÔes

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Glosa a mote alheio

“Vejo-a na alma pintada,
Quando me pede o desejo
O natural que nĂŁo vejo.”

Se sĂł no ver puramente
Me transformei no que vi,
De vista tĂŁo excelente
Mal poderei ser ausente,
Enquanto o nĂŁo for de mi.
Porque a alma namorada
A traz tĂŁo bem debuxada
E a memĂłria tanto voa,
Que, se a nĂŁo vejo em pessoa,
“Vejo-a na alma pintada.”

O desejo, que se estende
Ao que menos se concede,
Sobre vĂłs pede e pretende,
Como o doente que pede
O que mais se lhe defende.
Eu, que em ausĂȘncia vos vejo,
Tenho piedade e pejo
De me ver tĂŁo pobre estar,
Que entĂŁo nĂŁo tenho que dar,
“Quando me pede o desejo.”

Como Ă quele que cegou
É cousa vista e notória,
Que a Natureza ordenou
Que se lhe dobre em memĂłria
O que em vista lhe faltou,
Assim a mim, que nĂŁo rejo
Os olhos ao que desejo,
Na memĂłria e na firmeza
Me concede a Natureza
“O natural que nĂŁo vejo.”

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Ao desconcerto do Mundo

Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tĂŁo mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, sĂł pera mim,
Anda o Mundo concertado.

PerdigĂŁo perdeu a pena

PerdigĂŁo perdeu a pena
NĂŁo hĂĄ mal que lhe nĂŁo venha.

PerdigĂŁo que o pensamento
Subiu a um alto lugar,
Perde a pena do voar,
Ganha a pena do tormento.
NĂŁo tem no ar nem no vento
Asas com que se sustenha:
NĂŁo hĂĄ mal que lhe nĂŁo venha.

Quis voar a u~a alta torre,
Mas achou-se desasado;
E, vendo-se depenado,
De puro penado morre.
Se a queixumes se socorre,
Lança no fogo mais lenha:
NĂŁo hĂĄ mal que lhe nĂŁo venha.