Flor da Mocidade
Eu conheço a mais bela flor;
És tu, rosa da mocidade,
Nascida, aberta para o amor.
Eu conheço a mais bela flor.
Tem do céu a serena cor,
E o perfume da virgindade.
Eu conheço a mais bela flor,
És tu, rosa da mocidade.Vive às vezes na solidão,
Coma * filha da brisa agreste.
Teme acaso indiscreta mĂŁo;
Vive Ă s vezes na solidĂŁo.
Poupa a raiva do furacĂŁo
Suas folhas de azul celeste.
Vive Ă s vezes na solidĂŁo,
Como filha da brisa agreste.Colhe-se antes que venha o mal,
Colhe-se antes que chegue o inverno;
Que a flor morta já nada val.
Colhe-se antes que venha o mal.
Quando a terra Ă© mais jovial
Todo o bem nos parece eterno.
Colhe-se antes que venha o mal,
Colhe-se antes que chegue o inverno.
Poemas sobre Mortos de Machado de Assis
5 resultadosHoras Vivas
Noite: abrem-se as flores…
Que esplendores!
CĂntia sonha amores
Pelo céu.
TĂŞnues as neblinas
Ă€s campinas
Descem das colinas,
Como um véu.Mãos em mãos travadas,
Animadas,
VĂŁo aquelas fadas
Pelo ar;
Soltos os cabelos,
Em novelos,
Puros, louros, belos,
A voar.— “Homem, nos teus dias
Que agonias,
Sonhos, utopias,
Ambições;
Vivas e fagueiras,
As primeiras,
Como as derradeiras
Ilusões!— Quantas, quantas vidas
VĂŁo perdidas,
Pombas mal feridas
Pelo mal!Anos apĂłs anos,
TĂŁo insanos,
VĂŞm os desenganos
Afinal.— “Dorme: se os pesares
Repousares,
Vês? – por estes ares
Vamos rir;
Mortas, nĂŁo; festivas,
E lascivas,
Somos – horas vivas
De dormir!” –
As Rosas
Rosas que desabrochais,
Como os primeiros amores,
Aos suaves resplendores
Matinais;Em vĂŁo ostentais, em vĂŁo,
A vossa graça suprema;
De pouco vale; Ă© o diadema
Da ilusĂŁo.Em vĂŁo encheis de aroma o ar da tarde;
Em vĂŁo abris o seio Ăşmido e fresco
Do sol nascente aos beijos amorosos;
Em vĂŁo ornais a fronte Ă meiga virgem;
Em vĂŁo, como penhor de puro afeto,
Como um elo das almas,
Passais do seio amante ao seio amante;
Lá bate a hora infausta
Em que é força morrer; as folhas lindas
Perdem o viço da manhã primeira,
As graças e o perfume.
Rosas que sois então? – Restos perdidos,
Folhas mortas que o tempo esquece, e espalha
Brisa do inverno ou mĂŁo indiferente.Tal Ă© o vosso destino,
Ă“ filhas da natureza;
Em que vos pese Ă beleza,
Pereceis;
Mas, nĂŁo… Se a mĂŁo de um poeta
Vos cultiva agora, Ăł rosas,
Mais vivas, mais jubilosas,
Floresceis.
Cantiga do Rosto Branco
Rico era o rosto branco; armas trazia,
E o licor que devora e as finas telas;
Na gentil Tibeima os olhos pousa,
E amou a flor das belas.“Quero-te!” disse à cortesã da aldeia;
“Quando, junto de ti, teus olhos miro,
A vista se me turva, as forças perco,
E quase, e quase expiro.”E responde a morena requebrando
Um olhar doce, de cobiça cheio:
“Deixa em teus lábios imprimir meu nome;
Aperta-me em teu seio!”Uma cabana levantaram ambos,
O rosto branco e a amada flor das belas…
Mas as riquezas foram-se co’o tempo,
E as ilusões com elas.Quando ele empobreceu, a amada moça
Noutros lábios pousou seus lábios frios,
E foi ouvir de coração estranho
Alheios desvarios.Desta infidelidade o rosto branco
Triste nova colheu; mas ele amava,
Inda infiéis, aqueles lábios doces,
E tudo perdoava.Perdoava-lhe tudo, e inda corria
A mendigar o grĂŁo de porta em porta,
Com que a moça nutrisse, em cujo peito
Jazia a afeição morta.E para si,
Aspiração
Sinto que há na minha alma um vácuo imenso e fundo,
E desta meia morte o frio olhar do mundo
Não vê o que há de triste e de real em mim;
Muita vez, Ăł poeta, a dor Ă© casta assim;
Refolha-se, nĂŁo diz no rosto o que ela Ă©,
E nem que o revelasse, o vulgo não põe fé
Nas tristes comoções da verde mocidade,
E responde sorrindo à cruel realidade.Não assim tu, ó alma, ó coração amigo;
Nu, como a consciĂŞncia, abro-me aqui contigo;
Tu que corres, como eu, na vereda fatal
Em busca do mesmo alvo e do mesmo ideal.
Deixemos que ela ria, a turba ignara e vĂŁ;
Nossas almas a sĂłs, como irmĂŁ junto a irmĂŁ,
Em santa comunhão, sem cárcere, sem véus.
Conversarão no espaço e mais perto de Deus.Deus quando abre ao poeta as portas desta vida
NĂŁo lhe depara o gozo e a glĂłria apetecida;
Tarja de luto a folha em que lhe deixa escritas
A suprema saudade e as dores infinitas.
Alma errante e perdida em um fatal desterro,