Poemas sobre Navios de Fernando Namora

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Poemas de navios de Fernando Namora. Leia este e outros poemas de Fernando Namora em Poetris.

Cais

TĂ©nue Ă© o cais
no Inverno frio.
TĂ©nue Ă© o voo
do pássaro cinzento.
TĂ©nue Ă© o sono
que adormece o navio.
No vago cais
do balouço da bruma
ténue é a estrela
que um peixe morde.
TĂ©nue Ă© o porto
nos olhos do casario.
Mas o que em fora nos dilui
faz-nos exactos por dentro.

Pergunta

Quem vem de longe e sabe o nome do meu lugar
e levou o caminho das conchas em mar
e dos olhos em rio
— quem vem de longe chorar por mim?

Quem sabe que eu findo de dureza
e condensa ternura em suas mĂŁos
para a derramar em afagos
por mim?

Quem ouviu a angĂşstia do meu brado,
sirene de um navio a vadiar no largo,
e me traz seus beijos e sua cor,
perdendo-se na bruma das madrugadas
por mim?

Quem soube das asperezas da viagem
e pediu o pĂŁo negado
e o suor ao corpo torturado,
por mim? por mim?

Quem gerou o mundo e lhe deu seu nome
e seu tamanho — imenso, imenso,
e em mim cabe?

Poema para Iludir a Vida

Tudo na vida está em esquecer o dia que passa.
NĂŁo importa que hoje seja qualquer coisa triste,
um cedro, areias, raĂ­zes,
ou asa de anjo
caĂ­da num paul.
O navio que passou além da barra
já não lembra a barra.
Tu o olhas nas estranhas águas que ele há-de sulcar
e nas estranhas gentes que o esperam em estranhos
[portos.
Hoje corre-te um rio dos olhos
e dos olhos arrancas limos e morcegos.
Ah, mas a tua vitória está em saber que não é hoje
[o fim
e que há certezas, firmes e belas,
que nem os olhos vesgos
podem negar.
Hoje Ă© o dia de amanhĂŁ.