Femeeiro Lírico e Femeeiro Épico
Os homens que têm a mania das mulheres dividem-se facilmente em duas categorias. Uns procuram em todas as mulheres a ideia que eles próprios têm da mulher tal como ela lhe aparece em sonhos, o que é algo de subjectivo e sempre igual. Aos outros, move-os o desejo de se apoderarem da infinita diversidade do mundo feminino objectivo.
A obsessão dos primeiros é uma obsessão lírica; o que procuram nas mulheres não é senão eles próprios, não é senão o seu próprio ideal, mas, ao fim e ao cabo, apanham sempre uma grande desilusão, porque, como sabemos, o ideal é precisamente o que nunca se encontra. Como a desilusão que os faz andar de mulher em mulher dá, ao mesmo tempo, uma espécie de desculpa melodramática à sua inconstância, não poucos corações sensíveis acham comovente a sua perseverante poligamia.
A outra obsessão é uma obsessão épica e as mulheres não vêem nela nada de comovente: como o homem não projecta nas mulheres um ideal subjecitvo, tudo tem interesse e nada pode desiludi-lo. E esta impossibilidade de desilusão encerra em si algo de escandaloso. Aos olhos do mundo, a obsessão do femeeiro épico não tem remissão (porque não é resgatada pela desilusão).
Citações sobre Fim
1175 resultadosOs criadores e os génios, no início da sua carreira, quase sempre, e muitas vezes até no fim, sempre foram considerados pela sociedade como uns parvos e uns loucos — é esta uma das observações mais triviais e sabidas.
Se uma pessoa resolve lutar, convém saber a razão pela qual está a lutar. Caso contrário não faz sentido. A pessoa geralmente luta contra um poder, a fim de conquistar o poder para ele próprio. Ou porque o poder em questão está a ameaçar a sua vida.
Trata de saborear a vida; e fica sabendo, que a pior filosofia é a do choramingas que se deita à margem do rio para o fim de lastimar o curso incessante das águas. O ofício delas é não parar nunca; acomoda-te com a lei, e trata de aproveitá-la.
O Futuro é dos Virtuosos e dos Capazes
É preciso confessar, o presente é dos ricos, e o futuro é dos virtuosos e dos capazes. Homero ainda vive, e viverá sempre; os recebedores de direitos, os publicanos, não existem mais: existiram algum dia? A sua pátria, os seus nomes, são conhecidos? Houve arrecadores de impostos na Grécia? Que fim levaram essas personagens que desprezavam Homero, que só pensavam, na rua, em evitá-lo, não correspondiam à sua saudação, ou o saudavam pelo nome, desdenhavam associá-lo à sua mesa, olhavam-no como um home que não era rico e fazia um livro?
O mesmo orgulho que faz elevar-se altivamente acima dos seus inferiores, faz rastejar vilmente diante dos que estão acima de si. É próprio deste vício, que não se funda sobre o mérito pessoal nem sobre a virtude, e sim sobre as riquezas, cargos, crédito, e sobre ciências vãs, levar-nos igualmente a desprezar os que têm menos essa espécie de bens do que nós e a apreciar demais aqueles que têm uma medida que excede a nossa.Há almas sujas, amassadas com lama e sujidade, tomadas pelo desejo de ganho e interesse, como as belas almas o são pelo da glória e da virtude: capazes de uma única volúpia,
Dificultar Equivale a Facilitar e Inversamente
Muita coisa, que em certas fases do homem lhe dificulta a vida, serve, numa fase superior, para lha facilitar, porque esses homens aprenderam a conhecer maiores complicações da vida. O inverso sucede igualmente: é assim, por exemplo, que a religião tem um duplo rosto, conforme uma pessoa ergue para ela o olhar, para que ela o livre da sua cruz e das suas penas, ou baixa para ela o olhar como para as cadeias que lhe foram postas, a fim de que não suba pelos ares demasiado alto.
Anjo
Quando a fitar-te ainda o sol declina
E a cor dos teus cabelos no Ar flutua,
A tua alma na minha se insinua,
Teu vulto é prece alando-se, divina!A nossa voz, esparsa em luz, fascina;
A nossa voz… perdoa, Amor, a tua!
Ergues o olhar: crece em silêncio a lua,
Como uma flor, na tarde peregrina!E a tua graça, etéreo Abril jucundo,
Bênção de Deus que tudo beija e alcança,
Sorri em flor na escuridão do Mundo…A luz do Céu é o teu olhar sem fim;
E, no silêncio feito de esperança,
ouço o teu coração bater por mim!
Caso não ponha fim à guerra, esta não será uma vitória.
A dignidade de cada ser humano mede-se pela sua capacidade de reconhecer que uma pessoa é em si mesma um fim, nunca um meio.
O Homem ao Serviço dos Objectos
Proíbo aos comerciantes que gabem de mais as mercadorias. Eles têm tendência a tornar-se pedagogos e mostram-te como fim aquilo que por essência não passa de um meio. Depois de assim te enganarem sobre o caminho a seguir, pouco falta para te perverterem. Se a música deles é vulgar, para ta vender, não hesitarão em te fabricar uma alma vulgar. Ora, se é bom que se alicercem os objectos para servir os homens, seria monstruoso que se exigissem alicerces aos homens para servir de caixote do lixo aos objectos.
A Partida
Partimos muito cedo — A madrugada
Clara, serena, vaporosa e fresca,
Tinha as nuances de mulher tudesca
De fina carne esplêndida e rosada.Seguimos sempre afora pela estrada
Franca, poeirenta, alegre e pitoresca,
Dentre o frescor e a luz madrigalesca
Da natureza aos poucos acordada.Depois, no fim, lá de algum tempo — quando
Chegamos nós ao termo da viagem,
Ambos joviais, a rir, cantarolando,Da mesma parte do levante, de onde
Saímos, pois, faiscava na paisagem
O sol, radioso e altivo como um conde.
Deus morreu. Não digas que isso é absurdo e ininteligível, só porque as seitas religiosas enxameiam hoje o mundo. Porque é quando uma doença é incurável que há mais abundância de remédios para a curar. Como a proliferação de religiões no fim do império romano era o sinal de que a religião de Roma estava a acabar.
A Vida Grata
Feliz aquele a quem a vida grata
Concedeu que dos deuses se lembrasse
E visse como eles
Estas terrenas coisas onde mora
Um reflexo mortal da imortal vida.
Feliz, que quando a hora tributária
Transpor seu átrio por que a Parca corte
O fio fiado até ao fim,
Gozar poderá o alto prémio
De errar no Averno grato abrigo
Da convivência.Mas aquele que quer Cristo antepor
Aos mais antigos Deuses que no Olimpo
Seguiram a Saturno —
O seu blasfemo ser abandonado
Na fria expiação — até que os Deuses
De quem se esqueceu deles se recordem —
Erra, sombra inquieta, incertamente,
Nem a viúva lhe põe na boca
O óbolo a Caronte grato,
E sobre o seu corpo insepulto
Não deita terra o viandante.
O Sábio Face à Vida
Existe acaso alguém a quem possas colocar acima do sábio? O sábio tem, sobre os deuses, opiniões piedosas. Não teme a morte em momento nenhum, considera-a o fim normal da natureza, julga que o termo dos bens é fácil de atingir e de possuir, sabe que os males têm uma duração e uma gravidade limitadas; sabe o que é mister pensar da fatalidade, da qual se constuma fazer uma ama despótica. Sabe que os acontecimentos nascem, uns da fortuna, outros de nós próprios, porque a fatalidade é cega e a fortuna inconstante; que o que vem de nós não está submisso a nenhuma tirania, sujeito a reproche e a elogio.
Com efeito, melhor fora acreditar nas narrativas mitológicas sobre os deuses que tornar-se escravo da fatalidade dos físicos. A mitologia consente a esperança de que, honrando os deuses, poderemos dispô-los a nosso favor, enquanto a fatalidade é inexorável. O sábio não crê, como o vulgo, que a fortuna seja uma divindade, pois um deus não pode agir de maneira desordenada. Nem é, para ele, uma causa, dada a sua instabilidade. Não a admite como causa do bem e do mal, ou da vida feliz; não obstante, sabe que pode trazer grandes bens ou grandes males.
A liberdade também deve ser limitada a fim de ser possuída.
A ciência? Ao fim e ao cabo, o que é ela senão uma longa e sistemática curiosidade?
Alegria: medição da aproximação do fim. Não subtraias um dia no final do dia; subtrai cada alegria.
Por volta do ano 1830, Bentham acreditava que a educação universal levaria a resolver, a contento, todos os problemas sociais, antes do fim do século.
Tive um Cavalo de Cartão
Mulher. A tua pele branca foi um verão que quis viver e me foi negado. Um caminho que não me enganou. Enganou-me a luz e os olhos foscos das manhãs revividas. Enganou-me um sonho de poder ser o filho que fui, a correr pelos campos todo o dia, a medir as searas pelo tamanho dos braços abertos; enganou-me um sonho de poder ser o filho que fui no teu homem e no teu rosto, no teu filho, nosso. Não há manhãs para reviver, sei-o hoje. Não se podem construir dias novos sobre manhãs que se recordam. Inventei-te talvez, partindo de uma estrela como todas estas. Quis ter uma estrela e dar-lhe as manhãs de julho. As grandes manhãs de julho diante de casa e a minha mãe a acabar o almoço bom e o meu pai a chegar e a ralhar, sem ser a sério, por o almoço não estar pronto e eu sentado na terra, talvez a fazer um barroco, talvez a brincar com o cavalo de cartão. Tive um cavalo de cartão. Nunca te contei, pouco te contei, mas tive um cavalo de cartão. Brincava com ele e era bonito. Gostava muito dele. Tanto. Tanto. Tanto. Quando o meu pai mo trouxe,
O 25 de Abril foi, para todos nós, o fim da ditadura. Os heróicos militares que prepararam e executaram a revolta realizaram um acto de libertação de si mesmos, mas consigo mesmos quiseram libertar Portugal inteiro.