Poemas sobre Ninguém de Almeida Garrett

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Poemas de ninguém de Almeida Garrett. Leia este e outros poemas de Almeida Garrett em Poetris.

A um Amigo

Fiel ao costume antigo,
Trago ao meu jovem amigo
Versos prĂłprios deste dia.
E que de os ver tĂŁo singelos,
TĂŁo simples como eu, nĂŁo ria:
Qualquer os fará mais belos,
Ninguém tão d’alma os faria.

Que sobre a flor de seus anos
Soprem tarde os desenganos;
Que em torno os bafeje amor,
Amor da esposa querida,
Prolongando a doce vida
Fruto que suceda Ă  flor.

Recebe este voto, amigo,
Que eu, fiel ao uso antigo,
Quis trazer-te neste dia
Em poucos versos singelos.
Qualquer os fará mais belos,
Ninguém tão d’alma os faria.

Destino

Quem disse Ă  estrela o caminho
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como Ă© que a ave aprendeu?
Quem diz à planta «Florece!»
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?

Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se Ă  flor branca ou Ă  vermelha
O seu mel há-de ir pedir?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem…
Ai!, não mo disse ninguém.

Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino .
Vim cumprir o meu destino…
Vim, que em ti sĂł sei viver,
SĂł por ti posso morrer.

Preito

É lei do tempo, Senhora,
Que ninguém domine agora
E todos queiram reinar.
Quanto vale nesta hora
Um vassalo bem sujeito,
Leal de homenage e preito
E fácil de governar?

Pois o tal sou eu, Senhora:
E aqui juro e firmo agora
Que a um despĂłtico reinar
Me rendo todo nesta hora,
Que a liberdade sujeito…
NĂŁo a reis! – outro Ă© meu preito:
Anjos me hĂŁo-de governar.

Rosa sem Espinhos

Para todos tens carinhos,
A ninguém mostras rigor!
Que rosa Ă©s tu sem espinhos?
Ai, que nĂŁo te entendo, flor!

Se a borboleta vaidosa
A desdém te vai beijar,
O mais que lhe fazes, rosa,
É sorrir e é corar.

E quando a sonsa da abelha,
TĂŁo modesta em seu zumbir,
Te diz: «Ó rosa vermelha,
» Bem me podes acudir:

» Deixa do cálix divino
» Uma gota sĂł libar…
» Deixa, é néctar peregrino,
» Mel que eu nĂŁo sei fabricar …»

Tu de lástima rendida,
De maldita compaixĂŁo,
Tu Ă  sĂşplica atrevida
Sabes tu dizer que nĂŁo?

Tanta lástima e carinhos,
Tanto dĂł, nenhum rigor!
És rosa e não tens espinhos!
Ai !, que nĂŁo te entendo, flor.

Perfume da Rosa

Quem bebe, rosa, o perfume
Que de teu seio respira?
Um anjo, um silfo? ou que nume
Com esse aroma delira?

Qual Ă© o deus que, namorado,
De seu trono te ajoelha,
E esse néctar encantado
Bebe oculto, humilde abelha?

– NinguĂ©m? – Mentiste: essa frente
Em languidez inclinada,
Quem ta pĂ´s assim pendente?
Dize, rosa namorada.

E a cor de pĂşrpura viva
Como assim te desmaiou?
e essa palidez lasciva
Nas folhas quem ta pintou?

Os espinhos que tĂŁo duros
Tinhas na rama lustrosa,
Com que magos esconjuros
Tos desarmam, Ăł rosa?

E porquê, na hástea sentida
Tremes tanto ao pĂ´r do sol?
Porque escutas tĂŁo rendida
O canto do rouxinol?

Que eu nĂŁo ouvi um suspiro
Sussurrar-te na folhagem?
Nas águas desse retiro
NĂŁo espreitei a tua imagem?

NĂŁo a vi aflita, ansiada…
– Era de prazer ou dor? –
Mentiste, rosa, Ă©s amada,
E também tu amas, flor.

Mas ai! se nĂŁo for um nume
O que em teu seio delira,

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