Poemas sobre Doces de Almeida Garrett

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Poemas de doces de Almeida Garrett. Leia este e outros poemas de Almeida Garrett em Poetris.

Flor de Ventura

A flor de ventura
Que amor me entregou,
TĂŁo bela e tĂŁo pura
Jamais a criou:

NĂŁo brota na selva
De inculto vigor,
NĂŁo cresce entre a relva
De virgem frescor;

Jardins de cultura
NĂŁo pode habitar
A flor de ventura
Que amor me quis dar.

Semente Ă© divina
Que veio dos Céus;
Só n’alma germina
Ao sopro de Deus.

TĂŁo alva e mimosa
Não há outra flor;
Uns longes de rosa
Lhe avivam a cor;

E o aroma… Ai!, delĂ­rio
Suave e sem fim!
É a rosa, é o lírio,
É o nardo, o jasmim;

É um filtro que apura,
Que exalta o viver,
E em doce tortura
Faz de ânsias morrer.

Ai!, morrer… que sorte
Bendita de amor!
Que me leve a morte
Beijando-te, flor.

A um Amigo

Fiel ao costume antigo,
Trago ao meu jovem amigo
Versos prĂłprios deste dia.
E que de os ver tĂŁo singelos,
TĂŁo simples como eu, nĂŁo ria:
Qualquer os fará mais belos,
Ninguém tão d’alma os faria.

Que sobre a flor de seus anos
Soprem tarde os desenganos;
Que em torno os bafeje amor,
Amor da esposa querida,
Prolongando a doce vida
Fruto que suceda Ă  flor.

Recebe este voto, amigo,
Que eu, fiel ao uso antigo,
Quis trazer-te neste dia
Em poucos versos singelos.
Qualquer os fará mais belos,
Ninguém tão d’alma os faria.

Os Cinco Sentidos

SĂŁo belas – bem o sei, essas estrelas,
Mil cores – divinais tĂŞm essas flores;
Mas eu nĂŁo tenho, amor, olhos para elas:
Em toda a natureza
NĂŁo vejo outra beleza
SenĂŁo a ti – a ti!

Divina – ai! sim, será a voz que afina
Saudosa – na ramagem densa, umbrosa.
será; mas eu do rouxinol que trina
Não oiço a melodia,
Nem sinto outra harmonia
SenĂŁo a ti – a ti!

Respira – n’aura que entre as flores gira,
Celeste – incenso de perfume agreste,
Sei… nĂŁo sinto: minha alma nĂŁo aspira,
NĂŁo percebe, nĂŁo toma
SenĂŁo o doce aroma
Que vem de ti – de ti!

Formosos – sĂŁo os pomos saborosos,
É um mimo – de nĂ©ctar o racimo:
E eu tenho fome e sede… sequiosos,
Famintos meus desejos
EstĂŁo… mas Ă© de beijos,
É sĂł de ti – de ti!

Macia – deve a relva luzidia
Do leito – ser por certo em que me deito.
Mas quem, ao pé de ti, quem poderia
Sentir outras carĂ­cias,

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Ai, Helena!

Ai, Helena!, de amante e de esposo
Já o nome te faz suspirar,
Já tua alma singela pressente
Esse fogo de amor delicioso
Que primeiro nos faz palpitar! …
Oh!, não vás, donzelinha inocente,
Não te vás a esse engano entregar:
E amor que te ilude e te mente,
É amor que te há-de matar!
Quando o Sol nestes montes desertos
Deixa a luz derradeira apagar,
Com as trevas da noite que espanta
VĂŞm os anjos do Inferno encobertos
A sua vĂ­tima incauta afagar.
Doce Ă© a voz que adormece e quebranta,
Mas a mĂŁo do traidor …faz gelar.
Treme, foge do amor que te encanta,
É amor que te há-de matar.

Este Inferno de Amar

Este inferno de amar – como eu amo! –
Quem mo pĂ´s aqui n’alma… quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que Ă© a vida – e que a vida destrĂłi –
Como Ă© que se veio a atear,
Quando – ai quando se há-de ela apagar?

Eu nĂŁo sei, nĂŁo me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez… – foi um sonho –
Em que paz tĂŁo serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar…
Quem me veio, ai de mim! despertar?

SĂł me lembra que um dia formoso
Eu passei… dava o sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? – NĂŁo no sei;
Mas nessa hora a viver comecei…