Poemas sobre Olhos de Natália Correia

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Poemas de olhos de Natália Correia. Leia este e outros poemas de Natália Correia em Poetris.

Poema Involuntário

Decididamente a palavra
quer entrar no poema e dispõe
com caligráfica raiva
do que o poeta no poema põe.

Entretanto o poema subsiste
informal em teus olhos talvez
mas perdido se em precisa palavra
significas o que vĂŞs.

Virtualmente teus cabelos sabem
se espalhando avencas no travesseiro
que se eu digo prodigiosos cabelos
as insĂłlitas flores que se abrem
nĂŁo tĂŞm sua cor nem seu cheiro.

Finalmente vejo-te e sei que o mar
o pinheiro a nuvem valem a pena
e Ă© assim que sem poetizar
se faz a si mesmo o poema.

O Livro dos Amantes

I

Glorifiquei-te no eterno.
Eterno dentro de mim
fora de mim perecĂ­vel.
Para que desses um sentido
a uma sede indefinĂ­vel.

Para que desses um nome
Ă  exactidĂŁo do instante
do fruto que cai na terra
sempre perpendicular
Ă  humidade onde fica.

E o que acontece durante
na rapidez da descida
é a explicação da vida.

II

Harmonioso vulto que em mim se dilui.
Tu Ă©s o poema
e Ă©s a origem donde ele flui.
Intuito de ter. Intuito de amor
nĂŁo compreendido.
Fica assim amor. Fica assim intuito.
Prometido.

III

PrĂ­ncipe secreto da aventura
em meus olhos um dia começada e finita.
Onda de amargura numa água tranquila.
Flor insegura enlaçada no vento que a suporta.
Pássaro esquivo em meus ombros de aragem
reacendendo em cadĂŞncia e em passagem
a lua que trazia e que apagou.

IV

Dá-me a tua mão por cima das horas.
Quero-te conciso.
AdĂŁo depois do paraĂ­so
errando mais nítido à distância
onde te exalto porque te demoras.

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Ode Ă  Paz

Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,

Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidĂŁo das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodĂ­gios que sĂŁo verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhĂŁ dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro Ăł paz, eu te invoco Ăł benigna,
Ă“ Santa, Ăł talismĂŁ contra a indĂşstria feroz.
Com tuas mĂŁos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da HistĂłria,
deixa passar a Vida!

Auto-retrato

Espáduas brancas palpitantes:
asas no exĂ­lio dum corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigrantes
no navio da pálpebra
encalhado em renĂşncia ou cobardia.
Por vezes fĂŞmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
quebrado em jogos infantis.