Poemas sobre Outono de Eugénio de Andrade

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Poemas de outono de Eugénio de Andrade. Leia este e outros poemas de Eugénio de Andrade em Poetris.

No Fim do VerĂŁo

No fim do verão as crianças voltam,
correm no molhe, correm no vento.
Tive medo que nĂŁo voltassem.
Porque as crianças às vezes não
regressam. NĂŁo se sabe porquĂȘ
mas também elas
morrem.
Elas, frutos solares:
laranjas romĂŁs
diĂłspiros. Sumarentas
no outono. A que vive dentro de mim
também voltou; continua a correr
nos meus dias. Sinto os seus olhos
rirem; seus olhos
pequenos brilhar como pregos
cromados. Sinto os seus dedos
cantar com a chuva.
A criança voltou. Corre no vento.

Labirinto ou Alguns Lugares de Amor

O outono
por assim dizer
pois era verĂŁo
forrado de agulhas

a cal
rumorosa
do sol dos cardos

sem outras mĂŁos que lentas barcas
vai-se aproximando a ĂĄgua

a nudez do vidro
a luz
a prumo dos mastros

os prados matinais
os pés
verdes quase

o brilho
das magnĂłlias
apertado nos dentes

uma espécie de tumulto
as unhas
tĂŁo fatigadas dos dedos

o bosque abre-se beijo a beijo
e Ă© branco

As FrĂĄgeis Hastes

NĂŁo voltarei Ă  fonte dos teus flancos
ao fogo espesso do verĂŁo
a escorrer infatigĂĄvel
dos espelhos, nĂŁo voltarei.

NĂŁo voltarei ao leito breve
onde quebrĂĄmos uma a uma
todas as frĂĄgeis
hastes do amor.

Eis o outono: cresce a prumo.
Anoitecidas ĂĄguas
em febre em fĂșria em fogo
arrastam-me para o fundo.

Outono

O outono vem vindo, chegam melancolias,
cavam fundo no corpo,
instalam-se nas fendas; Ă s vezes
por aĂ­ ficam com a chuva
apodrecendo;
ou entĂŁo deixam marcas; as putas,
difĂ­ceis de apagar, de tĂŁo negras,
duras.