Poemas sobre Paz de Mário de Sá-Carneiro

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Além-Tédio

Nada me expira já, nada me vive –
Nem a tristeza nem as horas belas.
De as nĂŁo ter e de nunca vir a tĂŞ-las,
Fartam-me até as coisas que não tive.

Como eu quisera, emfim de alma esquecida,
Dormir em paz num leito de hospital…
Cansei dentro de mim, cansei a vida
De tanto a divagar em luz irreal.

Outrora imaginei escalar os céus
À força de ambição e nostalgia,
E doente-de-Novo, fui-me Deus
No grande rastro fulvo que me ardia.

Parti. Mas logo regressei Ă  dor,
Pois tudo me ruiu… Tudo era igual:
A quimera, cingida, era real,
A propria maravilha tinha cĂ´r!

Ecoando-me em silĂŞncio, a noite escura
Baixou-me assim na queda sem remédio;
Eu prĂłprio me traguei na profundura,
Me sequei todo, endureci de tedio.

E sĂł me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes, mais esguios…

Quási

Um pouco mais de sol – eu era brasa,
Um pouco mais de azul – eu era alĂ©m.
Para atingir, faltou-me um golpe d’asa…
Se ao menos eu permanecesse Ă quem…

Assombro ou paz? Em vĂŁo… Tudo esvaĂ­do
Num baixo mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho – Ăł dĂ´r! – quási vivido…

Quási o amor, quási o triunfo e a chama,
Quási o princĂ­pio e o fim – quási a expansĂŁo…
Mas na minh’alma tudo se derrama…
Entanto nada foi sĂł ilusĂŁo!

De tudo houve um começo… e tudo errou…
– Ai a dĂ´r de ser-quási, dor sem fim… –
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas nĂŁo voou…

Momentos d’alma que desbaratei…
Templos aonde nunca pus um altar…
Rios que perdi sem os levar ao mar…
Ansias que foram mas que nĂŁo fixei…

Se me vagueio, encontro sĂł indicios…
Ogivas para o sol – vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sĂ´bre os precipĂ­cios…

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