Poemas sobre Peixes

44 resultados
Poemas de peixes escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

A uma Regateira

A minha Isabel
saiu esta tarde
A matar de amores,
A vendar gorazes.

Deitada ao pescoço
A beatilha leva,
Pois de desprezar
Somente se preza,

Por fresco apregoa
O peixe, meu bem,
E no apregoar fresco
Quanto sal que tem!

Gadelhinhas louras,
Que pelas gadelhas
A minha alma anda
Pendurada nelas.

Em continhas brancas
ExtremĂłs vermelhos.
Porém como ela
Não há tal extremo.

MemĂłria de prata
Metida no dedo,
Vá-se embora o ouro,
Que não tem tal preço.

Sainha de pano,
Barra de veludo,
Mantilha vermelha,
Sapata em pantufo.

Ao passar lhe disse
Pela requebrar:
Senhora Isabel
Quem fora goraz!

Fizera-lhe eu logo
Depressa um Soneto,
Porque de poeta
Tenho meus dois dedos.

Porém nesse passo
Entrou BastiĂŁo,
Pediu-me dinheiro,
Dei a tudo de mĂŁo.

PaixĂŁo

— Quanto dura uma paixão?

Uma paixĂŁo nĂŁo dura nada, apenas
a eternidade simples de um sorriso
que, por ser belo, e possuir antenas
capta constantemente o paraĂ­so.

Uma paixĂŁo Ă© sempre um peixe grande,
uma alegria que se torna amarga
quando se perde a noite e, na manhĂŁ
de sol, se perde o anzol na linha larga.

Nem adianta, aĂ­, mudar de isca,
cevar o poço e procurar no fundo:
o peixe da paixĂŁo Ă© sombra arisca
na melhor pescaria deste mundo.

Ela nĂŁo dura muito e, por ser peixe,
não dura na emoção, não dura nada:
se se perde no fundo, Ă© sempre um feixe
de luz
— alguma escama nacarada,
caco de vidro, areia no sol quente
que cintila e se apaga, de repente.

Casamento

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque
mas que limpe os peixes.
Eu nĂŁo. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como ‘este foi difĂ­cil’
‘prateou no ar dando rabanadas’
e faz o gesto com a mĂŁo.
O silĂŞncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

Desastre

Ele ia numa maca, em ânsias, contrafeito,
Soltando fundos ais e trĂŞmulos queixumes;
CaĂ­ra dum andaime e dera com o peito,
Pesada e secamente, em cima duns tapumes.

A brisa que balouça as árvores das praças,
Como uma mĂŁe erguia ao leito os cortinados,
E dentro eu divisei o ungido das desgraças,
Trazendo em sangue negro os membros ensopados.

Um preto, que sustinha o peso dum varal,
Chorava ao murmurar-lhe: “Homem nĂŁo desfaleça!”
E um lenço esfarrapado em volta da cabeça,
Talvez lhe aumentasse a febre cerebral.

***
Findara honrosamente. As lutas, afinal,
Deixavam repousar essa criança escrava,
E a gente da provĂ­ncia, atĂ´nita, exclamava:
“Que providĂŞncias! Deus! Lá vai para o hospital!”

Por onde o morto passa há grupos, murmurinhos;
Mornas essĂŞncias vĂŞm duma perfumaria,
E cheira a peixe frito um armazém de vinhos,
Numa travessa escura em que nĂŁo entra o dia!

Um fidalgote brada e duas prostitutas:
“Que espantos! Um rapaz servente de pedreiro!”
Bisonhos, devagar, passeiam uns recrutas
E conta-se o que foi na loja dum barbeiro.

Continue lendo…

Moças na Praia

Nem sombra de mangas penugem
sol talvez a asa de uma andorinha

(a ferir guitarra). Brilhando

no meio dos peixes as pernas folhas
que a noite aconchegou. A distância

(ao vivo) entre a humidade e o

desejo inapreensĂ­vel. Os seios
(o alvo) rumor de bebidas no parque

Ă  espera do conhecimento hora e corpo

(os corpos) a crescerem maduros
contra a morte.

Simplicidade

Queria, queria
Ter a singeleza
Das vidas sem alma
E a lĂşcida calma
Da matéria presa.

Queria, queria
Ser igual ao peixe
Que livre nas águas
Se mexe;

Ser igual em som,
Ser igual em graça
Ao pássaro leve,
Que esvoaça…

Tudo isso eu queria!
(Ser fraco Ă© ser forte).
Queria viver
E depois morrer
Sem nunca aprender
A gostar da morte.

O Portugal Futuro

O portugal futuro Ă© um paĂ­s
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
Ă© essa a forma do meu paĂ­s
e chamem elas o que lhe chamarem
portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver Ă  beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relĂłgio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o portugal futuro

Contra a Esperança

É preciso esperar contra a esperança.
Esperar, amar, criar
contra a esperança
e depois desesperar a esperança
mas esperar,
enquanto um fio de água, um remo,
peixes
existem e sobrevivem
no meio dos litĂ­gios;
enquanto bater a máquina de coser
e o dia dali sair
como um colete novo.

É preciso esperar
por um pouco de vento,
um toque de manhĂŁs.
E nĂŁo se espera muito.
SĂł um curto-circuito
na lembrança. Os cabelos,
ninhos de andorinhas
e chuvas. A esperança,
cachorro
a correr sobre o campo
e uma pequena lebre
que a noite em vĂŁo esconde.

O universo Ă© um telhado
com sua calha tĂŁo baixo
e as estrelas, enxame
de abelhas na ponta.

É preciso esperar contra a esperança
e ser a mĂŁo pousada
no leme de sua lança.

E o peito da esperança
Ă© nĂŁo chegar;
seu rosto Ă© sempre mais.
É preciso desesperar
a esperança
como um balde no mar.

Um balde a mais
na esperança.

Continue lendo…

Largo do EspĂ­rito Santo

Nem mais, nem menos: tudo tal e qual
o sonho desmedido que mantinhas.
SĂł nĂŁo sonharas estas andorinhas
que temos no beiral.

E moramos num largo… E o nome lindo
que o nosso largo tem!
Com isto não contáramos também.
(Éramos dois sonhando e exigindo.)

Da nossa casa o Alentejo Ă© verde.
É atirar os olhos: São searas,
sĂŁo olivais, sĂŁo hortas… E pensaras
que haviam nossos olhos de ter sede!

E o pĂŁo da nossa mesa!… E o pucarinho
que nos dá de beber!… E os mil desenhos
da nossa loiça: flores, peixes castanhos,
dois pássaros cantando sobre um ninho…

E o nosso quarto? Agora podes dar-me
teu corpo sem receio ou amargura.
Olha como a Senhora da moldura
sorri Ă  nossa alma e Ă  nossa carne.

Em tudo, Ăł Companheira,
a nossa casa Ă© bem a nossa casa.
Até nas flores. Até no azinho em brasa
que geme na lareira.

Deus quis. E nĂłs ao sonho erguemos muros,
rasguei janelas eu e tu bordaste
as cortinas.

Continue lendo…

Funchal

O restaurante do peixe na praia, uma simples barraca, construída por náufragos.

Muitos, chegados à porta, voltam para trás, mas não assim as rajadas de vento do mar. Uma sombra encontra-se num cubículo fumarento e assa dois peixes, segundo uma antiga receita da Atlântida, pequenas explosões de alho.

O Ăłleo flui sobre as rodelas do tomate. Cada dentada diz que o oceano nos quer bem, um zunido das profundezas.

Ela e eu: olhamos um para o outro. Assim como se trepássemos as agrestes colinas floridas, sem qualquer cansaço. Encontramo-nos do lado dos animais, bem-vindos, não envelhecemos. Mas já suportámos tantas coisas juntos, lembramo-nos disso, horas em que também de pouco ou nada servíamos ( por exemplo, quando esperávamos na bicha para doar o sangue saudável – ele tinha prescrito uma transfusão). Acontecimentos, que nos podiam ter separado, se não nos tivéssemos unido, e acontecimentos que, lado a lado, esquecemos – mas eles não nos esqueceram!

Eles tornaram-se pedras, pedras claras e escuras, pedras de um mosaico desordenado.

E agora aconteceu: os cacos voam todos na mesma direcção, o mosaico nasce.

Ele espera por nĂłs. Do cimo da parede,

Continue lendo…

O Poema em que te Busco Ă© a Minha Rede

O poema em que te busco Ă© a minha rede,
Bem mais de borboletas que de peixes,
E Ă© o copo em que te bebo: morro Ă  sede
Mas ainda és margarida e não-me-deixes
E muito mais, no enumerar das coisas:
Cordão de laço e corda de violino,
Saliva de verdade nalgum beijo,
E poisas
Como ave de aço em pão se não te vejo.
Mas onde mais real do céu me avisas
É nas tuas camisas,
Calças de cor no catre bem dobradas.
E és os meus pensamentos, se te ausentas,
Meu ciĂşme escuro como vinho em toalha;
E o branco circular das horas lentas
Que um perfurante amor lembrado espalha.
Põe o penso no velo intercrural
Com um atilho vertical:
Rosa coberta esquiva
Quer a mĂŁo do desejo, quer
O conhecido cravo da agressĂŁo
Que estendo Ă s tuas formas de mulher,
Com esta soma e verbal percaução
De um fĂłnico doutor de Mompilher.

Algumas Proposições com Crianças

A criança está completamente imersa na infância
a criança não sabe que há-de fazer da infância
a criança coincide com a infância
a criança deixa-se invadir pela infância como pelo sono
deixa cair a cabeça e voga na infância
a criança mergulha na infância como no mar
a infância é o elemento da criança como a água
Ă© o elemento prĂłprio do peixe
a criança não sabe que pertence à terra
a sabedoria da criança é não saber que morre
a criança morre na adolescência
Se foste criança diz-me a cor do teu país
Eu te digo que o meu era da cor do bibe
e tinha o tamanho de um pau de giz
Naquele tempo tudo acontecia pela primeira vez
Ainda hoje trago os cheiros no nariz
Senhor que a minha vida seja permitir a infância
embora nunca mais eu saiba como ela se diz

I Was Made To Love Magic

A manhã com as suas proibições
na tua fala. A claridade estava a crescer
numa cama que já se tinha atravessado no escuro
como uma nave enfileirando para a guerra.

Eu nĂŁo tinha ficado para conhecer a vista
das tuas janelas: imaginava um pátio riscado por ervas
mas nĂŁo cheguei a levantar as persianas.
Talvez fosse um sĂ­tio ao qual nĂŁo se pudesse regressar
porque quando falávamos os nossos olhos
nĂŁo coincidiam com nenhuma palavra.

Teria gostado de te levar comigo outra vez
mas era difícil recuperar as razões
para o desejo. E no caso de nos ter acontecido
uma mudança, onde é que havíamos de procurar
os seus indĂ­cios? Estavas a dar de comer aos peixes
e eu sĂł falava em livros.

A Isca

Vem viver comigo, sĂŞ o meu amor
E alguns novos prazeres provaremos
De areias douradas e regatos de cristal
Com linhas de seda e anzĂłis de prata.

Aí o rio correrá murmurando, aquecido
Mais por teus olhos do que pelo sol;
E aĂ­ os peixes enamorados ficarĂŁo
Suplicando a si prĂłprios poder trair.

Quando tu nadares nesse banho de vida
Cada peixe, dos que todos os canais possuem,
Nadará amorosamente para ti,
Mais feliz por te apanhar, que tu a ele.

Se, sendo vista assim, fores censurada
Pelo Sol, ou Lua, a ambos eclipsarás;
E se me for dada licença para olhar
Dispensarei as suas luzes, tendo-te a ti.

Deixa que outros gelem com canas de pesca
E cortem as suas pernas em conchas e algas;
Ou traiçoeiramente cerquem os pobres peixes
Com engodos sufocantes, ou redes de calado.

Deixa que rudes e ousadas mĂŁos, do ninho limoso
Arranquem os cardumes acamados em baixios;
Ou que traidores curiosos, com moscas de seda
Enfeiticem os olhos perdidos dos pobres peixes,

Porque tu nĂŁo precisas de tais enganos,

Continue lendo…

Cais

Ténue é o cais
no Inverno frio.
Ténue é o voo
do pássaro cinzento.
Ténue é o sono
que adormece o navio.
No vago cais
do balouço da bruma
ténue é a estrela
que um peixe morde.
Ténue é o porto
nos olhos do casario.
Mas o que em fora nos dilui
faz-nos exactos por dentro.

Saudade

Saudade – O que será… nĂŁo sei… procurei sabĂŞ-lo
em dicionários antigos e poeirentos
e noutros livros onde nĂŁo achei o sentido
desta doce palavra de perfis ambĂ­guos.

Dizem que azuis sĂŁo as montanhas como ela,
que nela se obscurecem os amores longĂ­nquos,
e um bom e nobre amigo meu (e das estrelas)
a nomeia num tremor de cabelos e mĂŁos.

Hoje em Eça de Queiroz sem cuidar a descubro,
seu segredo se evade, sua doçura me obceca
como uma mariposa de estranho e fino corpo
sempre longe – tĂŁo longe! – de minhas redes tranquilas.

Saudade… Oiça, vizinho, sabe o significado
desta palavra branca que se evade como um peixe?
NĂŁo… e me treme na boca seu tremor delicado…
Saudade…
Tradução de Rui Lage

Noite Fechada

L.

Lembras-te tu do sábado passado,
Do passeio que demos, devagar,
Entre um saudoso gás amarelado
E as carĂ­cias leitosas do luar?

Bem me lembro das altas ruazinhas,
Que ambos nĂłs percorremos de mĂŁos dadas:
Ă€s janelas palravam as vizinhas;
Tinham lĂ­vidas luzes as fachadas.

Não me esqueço das cousas que disseste,
Ante um pesado tempo com recortes;
E os cemitérios ricos, e o cipreste
Que vive de gorduras e de mortes!

NĂłs saĂ­ramos prĂłximo ao sol-posto,
Mas seguĂ­amos cheios de demoras;
NĂŁo me esqueceu ainda o meu desgosto
Nem o sino rachado que deu horas.

Tenho ainda gravado no sentido,
Porque tu caminhavas com prazer,
Cara rapada, gordo e presumido,
O padre que parou para te ver.

Como uma mitra a cĂşpula da igreja
Cobria parte do ventoso largo;
E essa boca viçosa de cereja
Torcia risos com sabor amargo.

A Lua dava trĂŞmulas brancuras,
Eu ia cada vez mais magoado;
Vi um jardim com árvores escuras,
Como uma jaula todo gradeado!

E para te seguir entrei contigo
Num pátio velho que era dum canteiro,

Continue lendo…

Rosto Afogado

Para sempre um luar de naufrágio
anunciará a aurora fria.
Para sempre o teu rosto afogado,
entre retratos e vendedores ambulantes,
entre cigarros e gente sem destino,
flutuará rodeado de escamas cintilantes.

Se me pudesse matar,
seria pela curva doce dos teus olhos,
pela tua fronte de bosque adormecido,
pela tua voz onde sempre amanhecia,
pelos teus cabelos onde o rumor da sombra
era um rumor de festa,
pela tua boca onde os peixes se esqueciam
de continuar a viagem nupcial.
Mas a minha morte Ă© este vaguear contigo
na parte mais débil do meu corpo,
com uma espinha de silĂŞncio
atravessada na garganta.

Não sei se te procuro ou se me esqueço
de ti quando acaso me debruço
nuns olhos subitamente acesos
ao dobrar de uma esquina,
na boca dos anjos embriagados
de tanta solidĂŁo bebida pelos bares,
nas mĂŁos levemente adolescentes
poisadas na indolĂŞncia dos joelhos.
Quem me dirá que não é verdade
o teu rosto afogado, o teu rosto perdido,
de sombra em sombra, nas ruas da cidade?

Continue lendo…

Os Amantes

Amor, Ă© falso o que dizes;
Teu bom rosto Ă© contrafeito;
Busca novos infelizes
Que eu inda trago no peito
Mui frescas as cicatrizes;

O teu meu Ă© mel azedo,
NĂŁo creio em teu gasalhado,
Mostras-me em vĂŁo rosto ledo;
Já estou muito escaldado,
Já d’águas frias hei medo.

Teus prémios são pranto e dor;
Choro os mal gastados anos
Em que servi tal senhor,
Mas tirei dos teus enganos
O sair bom pregador.

Fartei-te assaz a vontade;
Em vĂŁos suspiros e queixas
Me levaste a mocidade,
E nem ao menos me deixas
Os restos da curta idade?

És como os cães esfaimados
Que, comendo os troncos quentes
Por destro negro esfolados,
Levam nos ávidos dentes
Os ossos ensanguentados.

Bem vejo a aljava dourada
Os ombros nus adornar-te;
Amigo, muda de estrada,
Põe a mira em outra parte
Que daqui nĂŁo tiras nada.

Busca algum fofo morgado
Que, solto já dos tutores,
Ao domingo penteado,
Vá dizendo à toa amores
Pelas pias encostado;

Continue lendo…

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou nĂŁo chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inĂşteis.

Meto as mĂŁos nas algibeiras e nĂŁo encontro nada.
Antigamente tĂ­nhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Ă€s vezes tu dizias: os teus olhos sĂŁo peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possĂ­veis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje sĂŁo apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já se não passa absolutamente nada.

Continue lendo…