Cerca de Grandes Muros Quem te Sonhas
Cerca de grandes muros quem te sonhas.
Depois, onde é visível o jardim
Através do portão de grade dada,
Põe quantas flores são as mais risonhas,
Para que te conheçam só assim.
Onde ninguém o vir não ponhas nada.Faze canteiros como os que outros têm,
Onde os olhares possam entrever
O teu jardim com lho vais mostrar.
Mas onde és teu, e nunca o vê ninguém,
Deixa as flores que vêm do chão crescer
E deixa as ervas naturais medrar.Faze de ti um duplo ser guardado;
E que ninguém, que veja e fite, possa
Saber mais que um jardim de quem tu és –
Um jardim ostensivo e reservado,
Por trás do qual a flor nativa roça
A erva tão pobre que nem tu a vês…
Poemas sobre Pobres de Fernando Pessoa
4 resultadosPobre Velha Música!
Pobre velha música!
Não sei por que agrado,
Enche-se de lágrimas
Meu olhar parado.Recordo outro ouvir-te,
Não sei se te ouvi
Nessa minha infância
Que me lembra em ti.Com que ânsia tão raiva
Quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei:
Fui-o outrora agora.
Ela Canta, Pobre Ceifeira
Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anônima viuvez,Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões pra cantar que a vida.Ah, canta, canta sem razão!
O que em mim sente ‘stá pensando.
Derrama no meu coração a tua incerta voz ondeando!Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciênciaPesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro!
Tornai Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!
Bate a Luz no Cimo…
Bate a luz no cimo
Da montanha, vê…
Sem querer eu cismo
Mas não sei em quê….Não sei que perdi
Ou que não achei…
Vida que vivi,
Que mal eu a amei !…Hoje quero tanto
Que o não posso ter,
De manhã há o pranto
E ao anoitecer…Tomara eu ter jeito
Para ser feliz…
Como o mundo é estreito,
E o pouco que eu quis !Vai morrendo a luz
No alto da montanha…
Como um rio a flux
A minha alma banha,Mas não me acarinha,
Não me acalma nada…
Pobre criancinha
Perdida na estrada !…