Feliz Dia para Quem Ă
Feliz dia para quem Ă©
O igual do dia,
E no exterior azul que vĂȘ
Simples confia!Azul do céu faz pena a quem
NĂŁo pode ser
Na alma um azul do céu também
Com que viverAh, e se o verde com que estĂŁo
Os montes quedos
Pudesse haver no coração
E em seus segredos!Mas vejo quem devia estar
Igual do dia
Insciente e sem querer passar.
Ah, a ironiaDe só sentir a terra e o céu
TĂŁo belo ser
Quem de si sente que perdeu
A alma pâra os ter!
Poemas sobre Querer de Fernando Pessoa
7 resultadosFoi um Momento
Foi um momento
O em que pousaste
Sobre o meu braço,
Num movimento
Mais de cansaço
Que pensamento,
A tua mĂŁo
E a retiraste.
Senti ou nĂŁo ?NĂŁo sei. Mas lembro
E sinto ainda
Qualquer memĂłria
Fixa e corpĂłrea
Onde pousaste
A mĂŁo que teve
Qualquer sentido
Incompreendido.
Mas tĂŁo de leve!…Tudo isto Ă© nada,
Mas numa estrada
Como Ă© a vida
HĂĄ muita coisa Incompreendida…Sei eu se quando
A tua mĂŁo
Senti pousando
âSobre o meu braço,
E um pouco, um pouco,
No coração,
NĂŁo houve um ritmo
Novo no espaço?
Como se tu,
Sem o querer,
Em mim tocasses
Para dizer
Qualquer mistério,
SĂșbito e etĂ©reo,
Que nem soubesses
Que tinha ser.Assim a brisa
Nos ramos diz
Sem o saber
Uma imprecisa
Coisa feliz.
Assim, Sem Nada Feito e o Por Fazer
Assim, sem nada feito e o por fazer
Mal pensado, ou sonhado sem pensar,
Vejo os meus dias nulos decorrer,
E o cansaço de nada me aumentar.Perdura, sim, como uma mocidade
Que a si mesma se sobrevive, a esperança,
Mas a mesma esperança o tédio invade,
E a mesma falsa mocidade cansa.TĂȘnue passar das horas sem proveito,
Leve correr dos dias sem ação,
Como a quem com saĂșde jaz no leito
Ou quem sempre se atrasa sem razĂŁo.Vadio sem andar, meu ser inerte
Contempla-me, que esqueço de querer,
E a tarde exterior seu tédio verte
Sobre quem nada fez e nada quere.InĂștil vida, posta a um canto e ida
Sem que alguém nela fosse, nau sem mar,
Obra solentemente por ser lida,
Ah, deixem-se sonhar sem esperar!
FĂșria nas Trevas o Vento
FĂșria nas trevas o vento
Num grande som de alongar,
NĂŁo hĂĄ no meu pensamento
SenĂŁo nĂŁo poder parar.Parece que a alma tem
Treva onde sopre a crescer
Uma loucura que vem
De querer compreender.Raiva nas trevas o vento
Sem se poder libertar.
Estou preso ao meu pensamento
Como o vento preso ao ar.
Dorme, que a Vida Ă© Nada!
Dorme, que a vida Ă© nada!
Dorme, que tudo Ă© vĂŁo!
Se alguém achou a estrada,
Achou-a em confusĂŁo,
Com a alma enganada.NĂŁo hĂĄ lugar nem dia
Para quem quer achar,
Nem paz nem alegria
Para quem, por amar,
Em quem ama confia.Melhor entre onde os ramos
Tecem docéis sem ser
Ficar como ficamos,
Sem pensar nem querer,
Dando o que nunca damos.
Bate a Luz no Cimo…
Bate a luz no cimo
Da montanha, vĂȘ…
Sem querer eu cismo
Mas nĂŁo sei em quĂȘ….NĂŁo sei que perdi
Ou que nĂŁo achei…
Vida que vivi,
Que mal eu a amei !…Hoje quero tanto
Que o nĂŁo posso ter,
De manhĂŁ hĂĄ o pranto
E ao anoitecer…Tomara eu ter jeito
Para ser feliz…
Como o mundo Ă© estreito,
E o pouco que eu quis !Vai morrendo a luz
No alto da montanha…
Como um rio a flux
A minha alma banha,Mas nĂŁo me acarinha,
NĂŁo me acalma nada…
Pobre criancinha
Perdida na estrada !…
Dorme Enquanto Eu Velo…
Dorme enquanto eu velo…
Deixa-me sonhar…
Nada em mim Ă© risonho.
Quero-te para sonho,
NĂŁo para te amar.A tua carne calma
Ă fria em meu querer.
Os meus desejos são cansaços.
Nem quero ter nos braços
Meu sonho do teu ser.Dorme, dorme, dorme,
Vaga em teu sorrir…
Sonho-te tĂŁo atento
Que o sonho Ă© encantamento
E eu sonho sem sentir.