Poemas sobre RaciocĂ­nio

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Poemas de raciocínio escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

ConfissĂŁo

É certo que me repito,
Ă© certo que me refuto
e que, decidido, hesito
no entra-e-sai de um minuto.

É certo que irresoluto
entre o velho e o novo rito
atiro Ă  cesta o absoluto
como inĂștil papelito.

É tão certo que me aperto
numa tenaz de mosquito
como Ă© trinta vezes certo
que me oculto no meu grito.

Certo, certo, certo, certo
que mais sinto que reflicto
as fĂĄbulas do deserto
do raciocĂ­nio infinito.

É tudo certo e prescrito
em nebuloso estatuto.
O homem, chamar-lhe mito
nĂŁo passa de anacoluto.

A Verdadeira Liberdade

A liberdade, sim, a liberdade!
A verdadeira liberdade!
Pensar sem desejos nem convicçÔes.
Ser dono de si mesmo sem influĂȘncia de romances!
Existir sem Freud nem aeroplanos,
Sem cabarets, nem na alma, sem velocidades, nem no cansaço!

A liberdade do vagar, do pensamento sĂŁo, do amor Ă s coisas naturais
A liberdade de amar a moral que Ă© preciso dar Ă  vida!
Como o luar quando as nuvens abrem
A grande liberdade cristĂŁ da minha infĂąncia que rezava
Estende de repente sobre a terra inteira o seu manto de prata para mim…
A liberdade, a lucidez, o raciocĂ­nio coerente,
A noção jurídica da alma dos outros como humana,
A alegria de ter estas coisas, e poder outra vez
Gozar os campos sem referĂȘncia a coisa nenhuma
E beber ĂĄgua como se fosse todos os vinhos do mundo!

Passos todos passinhos de criança…
Sorriso da velha bondosa…
Apertar da mĂŁo do amigo [sĂ©rio?]…
Que vida que tem sido a minha!
Quanto tempo de espera no apeadeiro!
Quanto viver pintado em impresso da vida!

Ah, tenho uma sede sĂŁ.

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Tu, VĂŁ Filosofia

Tu, vĂŁ Filosofia, embora aviltes
Os crentes nas visÔes do pensamento,
Turvo clarĂŁo de raciocĂ­nios tristes
Por entre sombras nos conduz, e a mente,
Rastejando a verdade, a desencanta;
Nem doloroso espĂ­rito se ilude,
Se o que, dormindo, creu, crĂȘ, despertando.
Até no afortunado a vida é sonho
(Sonho, que lĂĄ no fim se verifica),
E ansioso pesadelo em mim, que a choro,
Em mim, que provo o fel da desventura,
Desde que levantei, que abri, carpindo,
Os olhos infantis Ă  luz primeira;
Em mim, que fui, que sou de Amor o escravo,
E a vĂ­tima serei, e o desengano
Da suprema paixĂŁo, por ti cantada
Em versos imortais, como o princĂ­pio
Etéreo, criador, de que emanaram.

Todas as OpiniÔes que Hå sobre a Natureza

Todas as opiniÔes que hå sobre a Natureza
Nunca fizeram crescer uma erva ou nascer uma flor.
Toda a sabedoria a respeito das cousas
Nunca foi cousa em que pudesse pegar como nas cousas;
Se a ciĂȘncia quer ser verdadeira,
Que ciĂȘncia mais verdadeira que a das cousas sem ciĂȘncia?

Fecho os olhos e a terra dura sobre que me deito
Tem uma realidade tão real que até as minhas costas a sentem.
NĂŁo preciso de raciocĂ­nio onde tenho espĂĄduas.