Poemas sobre Razão de Eugénio de Andrade

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Poemas de razão de Eugénio de Andrade. Leia este e outros poemas de Eugénio de Andrade em Poetris.

Surdo, SubterrĂąneo Rio

Surdo, subterrĂąneo rio de palavras
me corre lento pelo corpo todo;
amor sem margens onde a lua rompe
e nimba de luar o prĂłprio lodo.

Correr do tempo ou sĂł rumor do frio
onde o amor se perde e a razĂŁo de amar
– surdo, subterrĂąneo, impiedoso rio,
para onde vais, sem eu poder ficar?

Litania

O teu rosto inclinado pelo vento;
a feroz brancura dos teus dentes;
as mĂŁos, de certo modo, irresponsĂĄveis,
e contudo sombrias, e contudo transparentes;

o triunfo cruel das tuas pernas,
colunas em repouso se anoitece;
o peito raso, claro, feito de ĂĄgua;
a boca sossegada onde apetece

navegar ou cantar, ou simplesmente ser
a cor dum fruto, o peso duma flor;
as palavras mordendo a solidĂŁo,
atravessadas de alegria e de terror,

sĂŁo a grande razĂŁo, a Ășnica razĂŁo.

Sobre o Caminho

Nada

nem o branco fogo do trigo
nem as agulhas cravadas na pupila dos pĂĄssaros
te dirĂŁo a palavra

NĂŁo interrogues nĂŁo perguntes
entre a razĂŁo e a turbulĂȘncia da neve
não hå diferença

NĂŁo colecciones dejectos o teu destino Ă©s tu

Despe-te
nĂŁo hĂĄ outro caminho