GRITO

De ti que inventaste
a paz
a ternura
e a paixĂŁo
o beijo
o beijo fundo intenso e louco
e deixaste lá para trás
a cĂ´ncava do medo
Ă  hora entre cĂŁo e lobo
Ă  hora entre lobo e cĂŁo.

De ti que em cada ano
cada dia cada mĂŞs
nĂŁo paraste de acender
uma e outra vez
a flor eléctrica
do mais desvairado
coração.

De ti que fugiste Ă  estepe
e obrigaste
Ă  ordem dos caminhos
o pastor
a cabra e o boi
e do fundo do tempo
me chamaste teu irmĂŁo.

De ti que ergueste a casa
sobre estacas
e pariste
deuses e linguagens
guerras
e paisagens sem alento.

De ti que domaste
o cavalo e os neutrões
e conquistaste
o lĂ­rico tropel
das águas e do vento.

De ti que traçaste
a régua e esquadro
uma abĂłboda inquieta
semeada de nuvens e tritões
santidades e tormentos.

De ti que levaste
a volupta da ambição
a trepar erecta
contra as leis do firmamento.

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