Os Arlequins – Sátira
Musa, depõe a lira!
Cantos de amor, cantos de glĂłria esquece!
Novo assunto aparece
Que o gênio move e a indignação inspira.
Esta esfera Ă© mais vasta,
E vence a letra nova a letra antiga!
Musa, toma a vergasta,
E os arlequins fustiga!Como aos olhos de Roma,
— Cadáver do que foi, pávido império
De Caio e de Tibério, —
O filho de Agripina ousado assoma;
E a lira sobraçando,
Ante o povo idiota e amedrontado,
Pedia, ameaçando,
O aplauso acostumado;E o povo que beijava
Outrora ao deus CalĂgula o vestido,
De novo submetido
Ao régio saltimbanco o aplauso dava.
E tu, tu nĂŁo te abrias,
Ó céu de Roma, à cena degradante!
E tu, tu nĂŁo caĂas,
Ă“ raio chamejante!Tal na histĂłria que passa
Neste de luzes século famoso,
O engenho portentoso
Sabe iludir a néscia populaça;
NĂŁo busca o mal tecido
Canto de outrora; a moderna insolĂŞncia
NĂŁo encanta o ouvido,
Fascina a consciĂŞncia!Vede; o aspecto vistoso,
O olhar seguro,
Poemas sobre Segurança
6 resultadosÉ por Ti que Vivo
Amo o teu tĂşmido candor de astro
a tua pura integridade delicada
a tua permanente adolescĂŞncia de segredo
a tua fragilidade acesa sempre altivaPor ti eu sou a leve segurança
de um peito que pulsa e canta a sua chama
que se levanta e inclina ao teu hálito de pássaro
ou à chuva das tuas pétalas de prataSe guardo algum tesouro não o prendo
porque quero oferecer-te a paz de um sonho aberto
que dure e flua nas tuas veias lentas
e seja um perfume ou um beijo um suspiro solarOfereço-te esta frágil flor esta pedra de chuva
para que sintas a verde frescura
de um pomar de brancas cortesias
porque é por ti que vivo é por ti que nasço
porque amo o ouro vivo do teu rosto
Da Tua Vida
Da tua vida o que nĂŁo podem entender
Nem oiro nem poder nem segurança
Mas a paixĂŁo do Tempo e de seus riscos
Tu buscaste o instante e a intensidade
E foste do combate e da mudança
Por isso um rastro de ruptura e de viagem
Ou talvez este fogo inconquistado
Como breve eternidade
De passagem
A Morte o Amor a Vida
Julguei que podia quebrar a profundeza a
[imensidade
Com o meu desgosto nu sem contacto sem eco
Estendi-me na minha prisĂŁo de portas virgens
Como um morto razoável que soube morrer
Um morto cercado apenas pelo seu nada
Estendi-me sobre as vagas absurdas
Do veneno absorvido por amor da cinza
A solidĂŁo pareceu-me mais viva que o sangueQueria desunir a vida
Queria partilhar a morte com a morte
Entregar meu coração ao vazio e o vazio à vida
Apagar tudo que nada houvesse nem o vidro
[nem o orvalho
Nada nem à frente nem atrás nada inteiro
Havia eliminado o gelo das mĂŁos postas
Havia eliminado a invernal ossatura
Do voto de viver que se anulaTu vieste o fogo entĂŁo reanimou-se
A sombra cedeu o frio de baixo iluminou-se de
[estrelas
E a terra cobriu-se
Da tua carne clara e eu senti-me leve
Vieste a solidĂŁo fora vencida
Eu tinha um guia na terra
Sabia conduzir-me sabia-me desmedido
Avançava ganhava espaço e tempo
Caminhava para ti dirigia-me incessantemente
[para a luz
A vida tinha um corpo a esperança desfraldava
[as suas velas
O sono transbordava de sonhos e a noite
Prometia Ă aurora olhares confiantes
Os raios dos teus braços entreabriam o nevoeiro
A tua boca estava hĂşmida dos primeiros orvalhos
O repouso deslumbrado substituĂa a fadiga
E eu adorava o amor como nos meus primeiros
[temposOs campos estão lavrados as fábricas irradiam
E o trigo faz o seu ninho numa vaga enorme
A seara e a vindima tĂŞm inĂşmeras testemunhas
Nada Ă© simples nem singular
O mar espelha-se nos olhos do céu ou da noiteA floresta dá segurança às árvores
E as paredes das casas tĂŞm uma pele comum
E as estradas cruzam-se sempre
Os homens nasceram para se entenderem
Para se compreenderem para se amarem
TĂŞm filhos que se tornarĂŁo pais dos homens
TĂŞm filhos sem eira nem beira
Que hĂŁo-de reinventar o fogo
Que hĂŁo-de reinventar os homens
E a natureza e a sua pátria
A de todos os homens
A de todos os tempos.
FĂ©
As orações dos homens
Subam eternamente aos teus ouvidos;
Eternamente aos teus ouvidos soem
Os cânticos da terra.No turvo mar da vida,
Onde aos parcéis do crime a alma naufraga,
A derradeira bĂşssola nos seja,
Senhor, tua palavra.A melhor segurança
Da nossa Ăntima paz, Senhor, Ă© esta;
Esta a luz que há de abrir à estância eterna
O fulgido caminho.Ah ! feliz o que pode,
No extremo adeus Ă s cousas deste mundo,
Quando a alma, despida de vaidade,
VĂŞ quanto vale a terra;Quando das glĂłrias frias
Que o tempo dá e o mesmo tempo some,
Despida já, — os olhos moribundos
Volta às eternas glórias;Feliz o que nos lábios,
No coração, na mente põe teu nome,
E sĂł por ele cuida entrar cantando
No seio do infinito.
Colhe o Dia, porque És Ele
Uns, com os olhos postos no passado,
VĂŞem o que nĂŁo vĂŞem: outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vĂŞem
O que não pode ver-se.Por que tão longe ir pôr o que está perto —
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta Ă© a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele.