Posse II

Ele —

Seduzir o cotidiano pelo corpo.
PenetrĂĄ-lo deste brilho longo,
compacto,
onde o cansaço não é tédio
mas Ășmido intervalo.

A paisagem nĂŁo sustenta
mais os olhos; estrelas
despojaram-se dos monĂłlogos,
a flor voltou a si, nĂŁo mais
dizer exausto, a primavera guardou
sua intimidade no discurso
das ĂĄrvores, e o amor,
esgarçado de imagens,
procurou outro equilĂ­brio
alĂ©m da frase, de um silĂȘncio
a outro.

Nem sempre a paz levou-nos
a suas tĂĄcitas paragens:
a liberdade aspirou um ser estranho,
em que de novo nos olhĂĄssemos.

No corpo prosseguimos
onde o amor parava.
E inventamos. Sem palavras
tornamos nossa a carne da manhĂŁ,
a exaurir o tempo, sem fidelidade
alguma, no dia imprevisĂ­vel,
além do nosso invento.