Poemas sobre Viajantes

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Poemas de viajantes escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Terra – 3

Eles subiram o monte com o povo arrebanhado
e padre-nossos nos lĂĄbios.
Eles subiram o monte e eram negros, grandiosos e medonhos.
Vinham de longe e diziam duma verdade nos lĂĄbios firmes e finos.
Vinham de longe, de MissÔes do cabo do mundo;
– da África? dos Brasis? – vinham de longe…
E ficou aquela cruz branca e esguia
erguida na serra.
SermÔes na igreja, comunhão geral
e procissĂŁo na rua.
Cristo, na cruz do alto, protegendo a freguesia – Hosana!
Terra e gente ficaram santos nesse dia – Hosana!
Hoje, todos sentem aqueles olhos parados lĂĄ do cimo
– caminheiros da serra, viajante da estrada –
todos sentem os olhos lĂĄ do cimo
– olhar imĂłvel e indiferente
daqueles que subiram o monte.

Poema de Amor

Teu rosto, no meu rosto, descansado.
Meu corpo, no teu corpo, adormecido.
Bater de asas, tĂŁo longe, noutro tempo,
sem relógio nem espaço proibido.

Oh, que atĂłnitos olhos nos contemplam,
nos sorriem, nos dizem: Sossegai!
RomĂąnticos amantes, viajantes eternos,
olham por nĂłs na hora que se esvai!

Que mĂșsica de prados e de fontes!
Que riso de ĂĄguas vem para nos levar?
Meu rosto, no teu rosto de horizontes,
Meu corpo, no teu corpo, a flutuar.

Sabedoria I, III

Que dizes, viajante, de estaçÔes, países?
Colheste ao menos tédio, jå que estå maduro,
Tu, que vejo a fumar charutos infelizes,
Projectando uma sombra absurda contra o muro?

Também o olhar estå morto desde as aventuras,
Tens sempre a mesma cara e teu luto Ă© igual:
Como através dos mastros se vislumbra a lua,
Como o antigo mar sob o mais jovem sol,

Ou como um cemitĂ©rio de tĂșmulos recentes.
Mas fala-nos, vĂĄ lĂĄ, de histĂłrias pressentidas,
Dessas desilusÔes choradas plas correntes,
Dos nojos como insípidos recém-nascidos.

Fala da luz de gĂĄs, das mulheres, do infinito
Horror do mal, do feio em todos os caminhos
E fala-nos do Amor e também da Política
Com o sangue desonrado em mĂŁos sujas de tinta.

E sobretudo não te esqueças de ti mesmo,
Arrastando a fraqueza e a simplicidade
Em lugares onde hĂĄ lutas e amores, a esmo,
De maneira tĂŁo triste e louca, na verdade!

Foi jĂĄ bem castigada essa inocĂȘncia grave?
Que achas? É duro o homem; e a mulher? E os choros,
Quem os bebeu?

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Ode MarĂ­tima

Sozinho, no cais deserto, a esta manhĂŁ de VerĂŁo,
Olho pro lado da barra, olho pro Indefinido,
Olho e contenta-me ver,
Pequeno, negro e claro, um paquete entrando.
Vem muito longe, nĂ­tido, clĂĄssico Ă  sua maneira.
Deixa no ar distante atrĂĄs de si a orla vĂŁ do seu fumo.
Vem entrando, e a manhĂŁ entra com ele, e no rio,
Aqui, acolĂĄ, acorda a vida marĂ­tima,
Erguem-se velas, avançam rebocadores,
Surgem barcos pequenos de trĂĄs dos navios que estĂŁo no porto.
HĂĄ uma vaga brisa.
Mas a minh’alma estĂĄ com o que vejo menos,
Com o paquete que entra,
Porque ele estĂĄ com a DistĂąncia, com a ManhĂŁ,
Com o sentido marĂ­timo desta Hora,
Com a doçura dolorosa que sobe em mim como uma nåusea,
Como um começar a enjoar, mas no espírito.

Olho de longe o paquete, com uma grande independĂȘncia de alma,
E dentro de mim um volante começa a girar, lentamente,

Os paquetes que entram de manhĂŁ na barra
Trazem aos meus olhos consigo
O mistério alegre e triste de quem chega e parte.

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RuĂ­na

Sem encontrar-se.
Viajante pelo seu prĂłprio torso branco.
Assim ia o ar.

Logo se viu que a lua
era uma caveira de cavalo
e o ar uma maçã escura.

DetrĂĄs da janela,
com lĂĄtegos e luzes se sentia
a luta da areia contra a ĂĄgua.

Eu vi chegarem as ervas
e lhes lancei um cordeiro que balia
sob seus dentezinhos e lancetas.

Voava dentro de uma gota
a casca de pluma e celulĂłide
da primeira pomba.

As nuvens, em manada,
ficaram adormecidas contemplando
o duelo das rochas contra a aurora.

VĂȘm as ervas, filho;
jĂĄ soam suas espadas de saliva
pelo céu vazio.

Minha mĂŁo, amor. As ervas!
Pelos cristais partidos da morada
o sangue desatou suas cabeleiras.

Tu somente e eu ficamos;
prepara teu esqueleto para o ar.
Eu sĂł e tu ficamos.

Prepara teu esqueleto;
Ă© preciso ir buscar depressa, amor, depressa,
nosso perfil sem sonho.

O Florir

O florir do encontro casual
Dos que hĂŁo sempre de ficar estranhos…

O Ășnico olhar sem interesse recebido no acaso
Da estrangeira rĂĄpida …

O olhar de interesse da criança trazida pela mão
Da mĂŁe distraĂ­da…

As palavras de episĂłdio trocadas
Com o viajante episĂłdico
Na episĂłdica viagem …

Grandes mĂĄgoas de todas as coisas serem bocados…
Caminho sem fim…

A Força Exacta Ă© ViolĂȘncia

a Força Exacta Ă© violĂȘncia.
a Força em espirro, ao acaso, nĂŁo Ă© violĂȘncia, Ă© existĂȘncia.
O mal é Fixar a Força (direccionå-la) porque a natureza espon-
tĂąnea nĂŁo o FAZ.
Natural é ser FORTE, isto é, avançar.
Violento é o Percurso que antecede o viajante. Antes dos pés:
Sapatos; a estrada.
A Força Exacta Ă© violĂȘncia.
A natureza não tem, nunca teve, Forças EXACTAS.
E tudo o que o homem faz Ă© tornar exacta a FORÇA.
Ser violento Ă© construir; todo o EdifĂ­cio Ă© violĂȘncia.
O homem Ă© o Exacto da Natureza; a falha NATURAL; o Erro.
Deus errou:
fez o homem EXACTO.

É InĂștil Tudo

Chega através do dia de névoa alguma coisa do esquecimento,
Vem brandamente com a tarde a oportunidade da perda.
Adormeço sem dormir, ao relento da vida.

É inĂștil dizer-me que as açÔes tĂȘm conseqĂŒĂȘncias.
É inĂștil eu saber que as açÔes usam conseqĂŒĂȘncias.
É inĂștil tudo, Ă© inĂștil tudo, Ă© inĂștil tudo.

Através do dia de névoa não chega coisa nenhuma.

Tinha agora vontade
De ir esperar ao comboio da Europa o viajante anunciado,
De ir ao cais ver entrar o navio e ter pena de tudo.

NĂŁo vem com a tarde oportunidade nenhuma.