Sonetos sobre Agrado

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Sonetos de agrado escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Uns Lindos Olhos, Vivos, Bem Rasgados

Uns lindos olhos, vivos, bem rasgados,
Um garbo senhoril, nevada alvura;
Metal de voz que enleva de doçura,
Dentes de aljĂŽfar, em rubi cravados:

Fios de ouro, que enredam meus cuidados,
Alvo peito, que cega de candura;
Mil prendas; e (o que Ă© mais que formosura)
Uma graça, que rouba mil agrados.

Mil extremos de preço mais subido
Encerra a linda MĂĄrcia, a quem of’reço
Um culto, que nem dela inda Ă© sabido:

Tão pouco de mim julgo que a mereço,
Que enojĂĄ-la nĂŁo quero de atrevido
Co’ as penas, que por ela em vĂŁo padeço.

Ó tu, consolador dos malfadados

Ó tu, consolador dos malfadados,
Ó tu, benigno dom da mão divina,
Das mĂĄgoas saborosa medicina,
Tranquilo esquecimento dos cuidados:

Aos olhos meus, de prantear cansados,
Cansados de velar, teu voo inclina;
E vĂłs, sonhos d’amor, trazei-me Alcina,
Dai-me a doce visĂŁo de seus agrados:

Filha das trevas, frouxa sonolĂȘncia,
Dos gostos entre o férvido transporte
Quanto me foi suave a tua ausĂȘncia!

Ah!, findou para mim tĂŁo leda sorte;
Agora Ă© sĂł feliz minha existĂȘncia
No mudo estado, que arremeda a morte.

VI

Brandas ribeiras, quanto estou contente
De ver nos outra vez, se isto Ă© verdade!
Quanto me alegra ouvir a suavidade,
Com que FĂ­lis entoa a voz cadente!

Os rebanhos, o gado, o campo, a gente,
Tudo me estĂĄ causando novidade:
Oh como Ă© certo, que a cruel saudade
Faz tudo, do que foi, mui diferente!

Recebei (eu vos peco) um desgraçado,
Que andou té agora por incerto giro
Correndo sempre atrĂĄs do seu cuidado:

Este pranto, estes ais, com que respiro,
Podendo comover o vosso agrado,
Façam digno de vós o meu suspiro.

Velho Tema II

Eu cantarei de amor tĂŁo fortemente
Com tal celeuma e com tamanhos brados
Que afinal teus ouvidos, dominados,
Hão de à força escutar quanto eu sustente.

Quero que meu amor se te apresente
– NĂŁo andrajoso e mendigando agrados,
Mas tal como Ă©: risonho e sem cuidados,
Muito de altivo, um tanto de insolente.

Nem ele mais a desejar se atreve
Do que merece: eu te amo, o meu desejo
Apenas cobra um bem que se me deve.

Clamo, e não gemo; avanço, e não rastejo;
E vou de olhos enxutos e alma leve
À galharda conquista do te beijo.

Amoroso Desdém num Belo Agrado

Amoroso desdém num belo agrado,
No mais duro ferir um doce jeito,
Tirania suave em brando aspeito,
Olhos de fogo em coração nevado,

No vestir um asseio descuidado,
IngratidĂŁo amĂĄvel no respeito,
O brio, a graça, o riso em um sujeito,
Variamente com o grave misturado.

Animado primor da formosura,
Luzido discursar de engenho agudo,
Custosa luz, incĂȘndio pretendido,

Alma no talhe, garbo na postura,
Capricho no cuidado, ar no descuido,
Armas sĂŁo com que amor me tem rendido.

Morte, JuĂ­zo, Inferno e ParaĂ­so

Em que estado, meu bem, por ti me vejo,
Em que estado infeliz, penoso e duro!
Delido o coração de um fogo impuro,
Meus pesados grilhÔes adoro e beijo.

Quando te logro mais, mais te desejo;
Quando te encontro mais, mais te procuro;
Quando mo juras mais, menos seguro
Julgo esse doce amor, que adorna o pejo.

Assim passo, assim vivo, assim meus fados
Me desarreigam d’alma a paz e o riso,
Sendo sĂł meu sustento os meus cuidados;

E, de todo apagada a luz do siso,
Esquecem-me (ai de mim!) por teus agrados
Morte, JuĂ­zo, Inferno e ParaĂ­so.

LVI

Tu, ninfa, quando eu menos penetrado
Das violĂȘncias de Amor vivia isento,
Propondo-te entĂŁo bela a meu tormento,
Foste doce ocasiĂŁo de meu cuidado.

Roubaste o meu sossego, um doce agrado,
Um gesto lindo, um brando acolhimento
Foram somente o Ășnico instrumento,
Com que deixaste o triunfo assegurado.

JĂĄ nĂŁo espero ter felicidade,
Salvo se for aquela, que confio,
Por amar-te, apesar dessa impiedade.

Em prĂȘmio dos suspiros, que te envio,
Ou modera o rigor da crueldade,
Ou torna-me outra vez meu alvedrio.

Apenas Vi Do Dia A Luz Brilhante

Apenas vi do dia a luz brilhante
LĂĄ de TĂșbal no empĂłrio celebrado,
Em sanguĂ­neo carĂĄcter foi marcado
Pelos Destinos meu primeiro instante.

Aos dois lustros a morte devorante
Me roubou, terna mĂŁe, teu doce agrado;
Segui Marte depois, e em fim meu fado
Dos irmĂŁos e do pai me pĂŽs distante.

Vagando a curva terra, o mar profundo,
Longe da pĂĄtria, longe da ventura,
Minhas faces com lĂĄgrimas inundo.

E enquanto insana multidĂŁo procura
Essas quimeras, esses bens do mundo,
Suspiro pela paz da sepultura.

Vendo A Anarda DepÔe O Sentimento

A serpe, que adornando vĂĄrias cores,
com passos mais oblĂ­quos, que serenos,
entre belos jardins, prados amenos,
Ă© maio errante de torcidas flores;

se quer matar da sede os desfavores,
Os cristais bebe com a peçonha menos,
por que nĂŁo morra com os mortais venenos,
se acaso gosta dos vitais licores.

Assim também meu coração queixoso,
na sede ardente do feliz cuidado
bebe cos olhos teu cristal formoso;

Pois para nĂŁo morrer no gosto amado,
depÔe logo o tormento venenoso,
se acaso gosta o cristalino agrado.

À Sua Esperança

Esta esperança vã, doce tormento,
Com que amor lisonjeiro determina
Acumular estragos Ă  ruĂ­na
Por levantar padrÔes ao escarmento,

Foi crepĂșsculo breve de um momento,
Delicado jasmim, frĂĄgil bonina,
Rosa, que se murchou duma aura fina,
Vidro, que se quebrou de um leve vento.

Morreu minha esperança às mãos de um rogo
E nas cinzas se alenta o meu cuidado,
Que amor nos impossĂ­veis mais se inflama:

Mas se a esperança é ar, e amor é fogo,
Justo é que nela cresça o meu agrado,
Pois ao sopro do vento cresce a chama.

À Fragilidade da Vida Humana

Esse baixel nas praias derrotado
Foi nas ondas Narciso presumido;
Esse farol nos céus escurecido
Foi do monte libré, gala do prado.

Esse nĂĄcar em cinzas desatado
Foi vistoso pavĂŁo de Abril florido;
Esse estio em vesĂșvios encendido
Foi ZĂ©firo suave em doce agrado.

Se a nau, o sol, a rosa, a Primavera
Estrago, eclipse, cinza, ardor cruel
Sentem nos auges de um alento vago,

Olha, cego imortal, e considera
Que Ă©s rosa, primavera, sol, baixel,
Para ser cinza, eclipse, incĂȘndio, estrago.