Sonetos sobre Maio

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Sonetos de maio escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Soneto De Maio

Suavemente Maio se insinua
Por entre os vĂ©us de Abril, o mĂȘs cruel
E lava o ar de anil, alegra a rua
Alumbra os astros e aproxima o céu.

Até a lua, a casta e branca lua
Esquecido o pudor, baixa o dossel
E em seu leito de plumas fica nua
A destilar seu luminoso mel.

Raia a aurora tĂŁo tĂ­mida e tĂŁo fragil
Que através do seu corpo tranparente
Dir-se-ia poder-se ver o rosto

Carregado de inveja e de pressĂĄgio
Dos irmĂŁos Junho e Julho, friamente
Preparando as catĂĄstrofes de Agosto…

Ponderação Do Rosto E Olhos De Anarda

Quando vejo de Anarda o rosto amado,
vejo ao céu e ao jardim ser parecido
porque no assombro do primor luzido
tem o sol em seus olhos duplicado.

Nas faces considero equivocado
de açucenas e rosas o vestido;
porque se vĂȘ nas faces reduzido
todo o império de Flora venerado.

Nos olhos e nas faces mais galharda
ao céu prefere quando inflama os raios,
e prefere ao jardim, se as flores guarda:

enfim dando ao jardim e ao céu desmaios,
o céu ostenta um sol, dois sóis Anarda,
um maio o jardim logra; ela dois maios.

Este Amor Que Vos Tenho, Limpo E Puro

Este amor que vos tenho, limpo e puro,
de pensamento vil nunca tocado,
em minha tenra idade começado,
tĂȘ-lo dentro nesta alma sĂł procuro.

De haver nele mudança estou seguro,
sem temer nenhum caso ou duro Fado,
nem o supremo bem ou baixo estado,
nem o tempo presente nem futuro.

A bonina e a flor asinha passa;
tudo por terra o Inverno e Estio
deita, sĂł para meu amor Ă© sempre Maio.

Mas ver-vos para mim, Senhora, escassa,
e que essa ingratidĂŁo tudo me enjeita,
traz este meu amor sempre em desmaio.

Soneto

(Lendo o “Poema de Maio”)

Na rua em funeral ei-la que passa,
A romaria eterna dos aflitos,
A procissĂŁo dos tristes, dos proscritos,
Dos romeiros saudosos da desgraça.

E na choça a lamĂșria que traspassa
O coração, além, ùnsias e gritos
De mĂŁes que arquejam sobre os probrezitos
Filhos que a Fome derrubou na praça.

Entre todos, porém, lùnguida e bela,
Da juventude a virginal capela
A lhe cingir de luz a fronte baça,

Vai Corina mendiga e esfarrapada,
A alma saudosa pelo amor vibrada,
– A Stella Matutina da Desgraça!

A Minha AusĂȘncia de Ti

Foi tal e qual o inverno a minha ausĂȘncia
de ti, prazer dum ano fugitivo:
dias nocturnos, gelos, inclemĂȘncia;
que nudez de dezembro o frio vivo.

E esse tempo de exĂ­lio era o do verĂŁo;
era a excessiva gravidez do outono
com a volĂșpia de maio em cada grĂŁo:
um seio viĂșvo, sem senhor nem dono.

Essa posteridade em seu esplendor
uma esperança de órfãos me parecia:
contigo ausente, o verĂŁo teu servidor

emudeceu as aves todo o dia.
Ou tanto as deprimiu, que a folha arfava
e no temor do inverno desmaiava.

Tradução de Carlos de Oliveira

Frutas De Maio

Maio chegou — alegre e transparente
Cheio de brilho e mĂșsica nos ares,
De cristalinos risos salutares,
Frio, porém, ó gota alvinitente.

Corre um fluido suave e odorescente
Das laranjeiras, como dos altares
O incenso — e, como a gaze azul dos mares,
Leve — hĂĄ por tudo um beijo, docemente.

Isto bem cedo, de manhĂŁ — adiante
Pela tarde um sol calmo, agonizante,
PÔe no horizonte resplendentes franjas.

HĂĄ carinhos, da luz em cada raio,
Filha — e eu que adoro este frescor de maio
Muito, mas muito — trago-te laranjas.

Comparar-te a um Dia de VerĂŁo?

Comparar-te a um dia de verĂŁo?
HĂĄ mais ternura em ti, ainda assim:
um maio em flor Ă s mĂŁos do furacĂŁo,
o foral do verĂŁo que chega ao fim.

Por vezes brilha ardendo o olhar do céu;
outras, desfaz-se a compleição doirada,
perde beleza a beleza; e o que perdeu
vai no acaso, na natureza, em nada.

Mas juro-te que o teu humano verĂŁo
serĂĄ eterno; sempre crescerĂĄs
indiferente ao tempo na canção;

e, na canção sem morte, viverås:
Porque o mundo, que vĂȘ e que respira,
te verĂĄ respirar na minha lira.

Tradução de Carlos de Oliveira

PĂĄssaro Marinho

ManhĂŁ de maio, rosas pelo prado,
Gorjeios, pelas matas verdurosas
E a luz cantando o idĂ­lio de um noivado
Por entre as matas e por entre as rosas.

Uma toilette matinal que o alado
Corpo te enflora em graças vaporosas,
Mergulhas, como um pĂĄssaro rosado,
Nas cristalinas ĂĄguas murmurosas.

DĂĄs o bom dia ao Mar nesse mergulho
E das ĂĄguas salgadas ao marulho
Sais, no esplendor dos límpidos espaços.

Trazes na carne um reflorir de vinhas,
Auroras, virgens mĂșsicas marinhas,
Acres aromas de algas e sargaços!

Sol E Anarda

O sol ostenta a graça luminosa,
Anarda por luzida se pondera;
o sol Ă© brilhador na quarta esfera,
brilha Anarda na esfera de formosa.

Fomenta o sol a chama calorosa,
Artarda ao peito viva chama altera,
o jasmim, cravo e rosa ao sol se esmera,
cria Anarda o jasmim, o cravo e a rosa.

O sol Ă  sombra dĂĄ belos desmaios,
com os olhos de Anarda a sombra Ă© clara,
pinta maios o sol, Anarda maios.

Mas (desiguais sĂł nisto) se repara
o sol liberal sempre de seus raios,
Anarda de seus raios sempre avara.

Soneto IX

Para do mundo dar completo cabo,
LĂĄ do negro recinto o soberano
Meditava a forjar horrĂ­vel plano
Coçando a grenha, sacudindo o rabo.

Merecedor enfim de imenso gabo,
Eis o que assim disse muito ufano:
Para a missão cumprir — digesto humano
Quero fazer — que nasça hoje um diabo.

E o 23 de maio nisso raia…
TeotĂŽnio nasceu, e a fama soa
Jamais ter visto infame dessa laia.

Pois para SatĂŁ ser mesmo em pessoa,
Traja, qual bruxa velha, negra saia,
Como o rei dos bandalhos tem coroa.

Vendo A Anarda DepÔe O Sentimento

A serpe, que adornando vĂĄrias cores,
com passos mais oblĂ­quos, que serenos,
entre belos jardins, prados amenos,
Ă© maio errante de torcidas flores;

se quer matar da sede os desfavores,
Os cristais bebe com a peçonha menos,
por que nĂŁo morra com os mortais venenos,
se acaso gosta dos vitais licores.

Assim também meu coração queixoso,
na sede ardente do feliz cuidado
bebe cos olhos teu cristal formoso;

Pois para nĂŁo morrer no gosto amado,
depÔe logo o tormento venenoso,
se acaso gosta o cristalino agrado.

Fervet Amor

DĂĄ para a cerca a estreita e humilde cela
Dessa que os seus abandonou, trocando
O calor da famĂ­lia ameno e brando
Pelo claustro que o sangue esfria e gela.

Nos florÔes manuelinos da janela
Papeiam aves o seu ninho armando,
VĂȘem-se ao longe os trigos ondulando ..
Maio sorri na Pradaria bela.

Zumbe o inseto na flor do rosmaninho:
Nas giestas pousa a abelha ébria de gozo:
Zunem besouros e palpita o ninho.

E a freira cisma e cora, ao ver, ansioso,
Do seu catre virgĂ­neo sobre o linho
Um par de borboletas amoroso.