Sonetos sobre Atores de Cruz e Souza

4 resultados
Sonetos de atores de Cruz e Souza. Leia este e outros sonetos de Cruz e Souza em Poetris.

Um Dia Guttemberg

Um dia Guttemberg c’o a alma aos cĂ©us suspensa,
Pegou do escopro ingente e pĂŽs-se a trabalhar!
E fez do velho mundo um rĂștilo alcançar
Ao mågico clangor de sua idéia imensa!

Rolou por todo o globo a luz da sacra imprensa!
Ruiu o despotismo no pĂł, a esbravejar…
Uniram-se n’um lago, o cĂ©u, a terra, o mar…
Rasgou-se o manto atroz da horrĂ­vel treva densa!…

Ergueram-se mil povos ao som das melopéias,
Das grandes cavatinas olĂ­mpicas da arte!
Raiou o novo sol das fĂșlgidas idĂ©ias!…

Porém, quem lance luz maior por toda a parte
És tu, sublime atriz, Ăł misto de epopĂ©ias
Que sabes no tablado subir, endeusar-te!…

É Delicada, Suave, Vaporosa

É delicada, suave, vaporosa,
A grande atriz, a singular feitura…
É linda e alva como a neve pura,
DĂ©bil, franzina, divinal, nervosa!…

E d’entre os lĂĄbios setinais, de rosa
Libram-se pĂ©rolas de nitente alvura…
E doce aroma de sutil frescura
Sai-lhe da leve compleição mimosa!…

Quando aparece no febril proscĂȘnio
Bem como os mitos do passado, ingentes,
Bem como um astro majestoso, helĂȘnio…

Sente-se n’alma as atraçÔes potentes
Que sĂł se operam ao fulgor do gĂȘnio,
As rubras chispas ideais, ferventes!…

Êxtase De Mármore

À grande atriz Apolînia.

O mĂĄrmore profundo e cinzelado
De uma estĂĄtua viril, deliciosa;
Essa pedra que geme, anseia e goza
Num misticismo altĂ­ssimo e calado;

Essa pedra imortal — campo rasgado
A comoção mais íntima e nervosa
Da alma do artista, de um frescor de rosa,
Feita do azul de um céu muito azulado;

Se te visse o clarĂŁo que pelos ombros
Teus, rola, cai, nos mĂșltiplos assombros
Da Arte sonora, plena de harmonia;

O mĂĄrmore feliz que Ă© muito artista
TambĂ©m — como tu Ă©s — Ă  tua vista
De humildade e ciĂșme, coraria!

O Seu Boné

À atriz Adelina Castro

É um bonĂ© ideal, de feltros e de plumas,
Que ela usa agora, assim como um turbante
Turco, aveludado, doce como algumas
Nuvens matinais que rolam no levante.

Lembro quando ao vĂȘ-lo a rubra marselhesa,
Lembro sensaçÔes e cousas de prodígio
E penso que ele tem a mĂĄscula grandeza
Desse sedutor, vital barrete frĂ­gio!…

Às vezes meu olhar medindo-lhe o contorno
E a flĂĄcida plumagem que serve-lhe d’adorno,
— satĂąnico, voraz, esplĂȘndido de fĂ©!

Exclama num idĂ­lio cĂąndido e singelo,
Por entre as convulsĂ”es artĂ­sticas do Belo; —
Oh! tem coração e alma, esse bonĂ©!…