Lápide
(com tema de VirgĂlio, o Latino,
e de Lino Pedra-Azul, o Sertanejo)Quando eu morrer, nĂŁo soltem meu Cavalo
nas pedras do meu Pasto incendiado:
fustiguem-lhe seu Dorso alardeado,
com a Espora de ouro, até matá-lo.Um dos meus filhos deve cavalgá-lo
numa Sela de couro esverdeado,
que arraste pelo ChĂŁo pedroso e pardo
chapas de Cobre, sinos e badalos.Assim, com o Raio e o cobre percutido,
tropel de cascos, sangue do Castanho,
talvez se finja o som de Ouro fundidoque, em vão – Sangue insensato e vagabundo —
tentei forjar, no meu Cantar estranho,
Ă tez da minha Fera e ao Sol do Mundo!
Sonetos sobre Cascos
3 resultadosPrĂłlogo
Cavo a cova como um cavalo os cascos cava
se no cavá-lo invoca a fúria de ferir
E tanto mais se cava que a alma nĂŁo se lava
e as águas já me levam léguas a fingirCava costura cavo à cava enviesada
e o talhe tinge a sombra em descaĂda pena
Nessa escritura a sina foge desgarrada
e o corte torce a mĂŁo e a garra do poemaE dono nĂŁo sou mais senĂŁo o torto artĂfice
dessas linhas traçadas a dois e por um
E assim me assino esse uno e esse outro Majnun
que por louca paixĂŁo da noite Ă© seu partĂcipemesmo sem Laila veste a dor e se vislumbra
nos lobos do deserto donos da penumbra
SĂł
Este, que um deus cruel arremessou Ă vida,
Marcando-o com o sinal da sua maldição,
– Este desabrochou como a erva má, nascida
Apenas para aos pĂ©s ser calcada no chĂŁo.De motejo em motejo arrasta a alma ferida…
Sem constância no amor, dentro do coração
Sente, crespa, crescer a selva retorcida
Dos pensamentos maus, filhos da solidĂŁo.Longos dias sem sol! noites de eterno luto!
Alma cega, perdida Ă toa no caminho!
Roto casco de nau, desprezado no mar!E, árvore, acabará sem nunca dar um fruto;
E, homem, há de morrer como viveu: sozinho!
Sem ar! sem luz! sem Deus! sem fé! sem pão! sem lar!