Sonetos sobre Dia de Afonso Duarte

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Sonetos de dia de Afonso Duarte. Leia este e outros sonetos de Afonso Duarte em Poetris.

Hora MĂ­stica

Noite caindo … CĂ©u de fogo e flores.
Voz de CrepĂşsculo exalando cores,
O céu vai cheio de Deus e de harmonia.
SilĂŞncio … Eis-me rezando aos fins do dia.

Névoa de luz criando imagens na água,
Nome das águas esculpindo os céus,
Tarde aos relevos húmidos de frágua,
Boca da noite, eis-me rezando a Deus.

Eis-me entoando, a voz de cinza e ouro,
— Oh, cores na água vindo às mãos em branco! —
Minha Ăłpera de Sol ao Ăşltimo arranco.

E, oh! hora mĂ­stica em que o olhar abraso,
— Sol expirando aos Pórticos do Ocaso! —
Dobra em meu peito um oceano em coro.

Noite do Roubo

A quem foram roubar os pobres trapos:
A mim, que sou humilde pobrezinho?
Olhem bem que o valor desses farrapos
Está em ter minha avó fiado o linho.

Ă“ rocas a fiar, contos de fadas!
Eu tinha-lhes amor e a simpatia
Que vem das saudades de algum dia,
Longe, das velhas noites seroadas.

Bragais de minha casa, e as roupas feitas
Por mĂŁos de minha mĂŁe, muito me assusta
Que os tomassem perversas mĂŁos suspeitas.

Ah! mĂŁos do furto, olhai, trazei-me Ă  justa
Os meus linhos — suor dumas colheitas —
E amor dos meus que a mim muito me custa.

Erros Meus a que Chamarei Virtude

Erros meus a que chamarei virtude,
Por bem vos quero, e morro despedido
Sem amor, sem saĂşde, o chĂŁo perdido,
Erros meus a que chamarei virtude.

A terra cultivei, amargo e rude,
No sonho de melhor a ter servido;
Para ilusĂŁo de um palmo de comprido,
A terra cultivei, amargo e rude.

E o amor? A saĂşde? Eis os dois Lagos
Onde os olhos me ficam debruçados
— Azul e roxo, rasos de água os Lagos.

Mas direis, erros meus, ainda amores?
— São bonitos os dias acabados
Quando ao poente o Sol desfolha flores.

Natal

Turvou-se de penumbra o dia cedo;
Nem o sol apertou no meu beiral!
Que longas horas de Jesus! Natal…
E o cepo a arder nas cinzas do brasedo…

E o lar da casa, os corações aos dobres,
É um painel a fogo em seu costume!
Que lindos versos bĂ­blicos, ao lume,
Plo doce PrĂ­ncipe cristĂŁo dos pobres!

Fulvas figuras pra esculpir em barro:
Ă€ luz da lenha, em rubro tom bizarro,
Sou em Presépio com meus pais e irmãos

E junto Ă s brasas, os meus olhos postos
Nesta evangélica expressão de rostos,
Ergo em graças a Deus as minhas mãos.