Sonetos sobre Dor de Francisco Joaquim Bingre

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Sonetos de dor de Francisco Joaquim Bingre. Leia este e outros sonetos de Francisco Joaquim Bingre em Poetris.

Ar

Vivificante ar, pai da existência,
Assopro animador do Autor Divino,
Deste nosso subtil moto contino
Composto, onde um Deus pôs sua ciência!

Tu tens, ó ar, a excelsa preeminência
De ser exalação do bafo Trino,
Tu susténs, sem cair, o home a pino:
Sem ti tem sempre pronta a decadência.

Tu as ardentes febres lhe mitigas
Nesta, do mundo, trabalhosa lida,
Nestas da Terra (sem cessar) fadigas.

Tu és o sustentáculo da vida,
Porém, quando do corpo te desligas,
Lhe dás, com dor, eterna despedida.

Aquela que Cantei na Doce Lira

Aquela que cantei na doce lira,
Que já do Tempo estragos tem sentido,
Inda veio, com seu garbo fingido,
Tentar meu coração, que em paz respira.

Mas, qual duro rochedo que não vira,
Por mais que o bata o mar enfurecido,
Assim firme fiquei, no meu sentido,
Vendo o cepo enfeitado da Mentira.

Encarei-o com dor, mas sem transporte,
Pois de meus longos anos na carreira
Já do Tempo sofri, também, o corte.

Pensando na minha hora derradeira,
Eu vi só entre nós sentada a Morte,
E ao pé de uma caveira, outra caveira.