Sonetos Exclamativos de Eugénio de Castro

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TrĂŞs Rosas

Sempre, mas sobretudo nas brumosas
Horas da tarde, quando acaba o dia,
Quando se estrela o céu, tenho a mania
De descobrir, de ver almas nas cousas.

Pendem deste gomil trĂŞs lindas rosas;
Uma Ă© rosada, a outra branca e fria,
Rubra a terceira; e a minha fantasia
Torna-as humanas, vivas, amorosas.

Sei que sĂŁo rosas, rosas sĂł! mas nada
Impede, enquanto cai lá fora a chuva,
Que a minha mente a fantasiar se ponha:

Por ser noiva a primeira, Ă© que Ă© rosada;
Branca a segunda está, por ser viúva;
A vermelha pecou … e tem vergonha!

Em que Emprego o Meu Tempo?

Em que emprego o meu tempo? Vou e venho,
Sem dar conta de mim nem dos pastores,
Que deixam de cantar os seus amores,
Quando passo e lhes mostro a dor que tenho.

É de tristezas o torrão que amanho,
Amasso o negro pĂŁo com dissabores,
Em ribeiros de pranto pesco dores,
E guardo de saudades um rebanho.

Meu coração à doce paz resiste,
E, embora fiqueis crendo que motejo,
Alegre vivo por viver tĂŁo triste!

Amor se mostra nesta dor que abrigo:
Quero triste viver, pois vos nĂŁo vejo,
Nem sequer muito ao longe vos lobrigo.

O Anel de Corina

Enquanto espera a hora combinada
De o remeter com flores a Corina,
OvĂ­dio oscĂşla o anel que lhe destina
E em que uma gema fulge bem gravada.

— « Como eu te invejo, ó prenda afortunada !
« Com ela vais dormir, mimosa e fina,
« Com ela has-de banhar-te na piscina
« Donde sairá, qual Venus, orvalhada,

« O dorso e o seio lhe verás de rosas,
« E selarás as cartas deliciosas
« Com que em minh’alma alento e esp’rança verte…

« E temendo (suprema f’licidade!)
« Que a cera adira á pedra, ai! então ha-de
« Com a ponta da língua humedecer-te! »