VĂłs Outros! que Dizeis que o Amor Ă© um SuplĂcio
VĂłs outros! que dizeis que o Amor Ă© um suplĂcio,
Que a flor da Decepção se abre em todo o Prazer,
Que aconselhais Ă Alma o mosteiro, e o cilĂcio,
Pois nada pode consolar-nos de viver:Ponde os olhos em mim, neste celeste Amor
Que me vai desdobrando e alumiando o caminho,
Mesmo quando o alto Céu, sem frescura e sem cor,
Tem as engelhas de algum velho pergaminho…Vede como eu quero viver, por merecĂȘ-la,
Eu que sou pecador, a ela longĂnqua Estrela!
No esforço de ser bom, branco como um altar:De modo que a minha Alma, enfim, fique tão crente,
Que se possa casar Ă sua estreitamente,
Como um floco de neve a um raio de luar!
Sonetos sobre Flores de Alberto d'Oliveira
4 resultadosAfrodite I
Móvel, festivo, trépido, arrolando,
Ă clara voz, talvez da turba iriada
De sereias de cauda prateada,
Que vĂŁo com o vento os carmes concertando,O mar, – turquesa enorme, iluminada,
Era, ao clamor das ĂĄguas, murmurando,
Como um bosque pagĂŁo de deuses, quando
Rompeu no Oriente o pĂĄlio da alvorada.As estrelas clarearam repentinas,
E logo as vagas sĂŁo no verde plano
Tocadas de ouro e irradiaçÔes divinas;O oceano estremece, abrem-se as brumas,
E ela aparece nua, Ă flor de oceano,
Coroada de um cĂrculo de espumas.
Vaso ChinĂȘs
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mĂĄrmor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.Fino artista chinĂȘs, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.Mas, talvez por contraste Ă desventura,
Quem o sabe?… de um velho mandarim
Também lå estava a singular figura.Que arte em pintå-la! A gente acaso vendo-a,
Sentia um nĂŁo sei quĂȘ com aquele chim
De olhos cortados Ă feição de amĂȘndoa.
Luva Abandonada
Uma só vez calçar-vos me foi dado,
Dedos claros! A escura sorte minha,
O meu destino, como um vento irado,
Levou-vos longe e me deixou sozinha!Sobre este cofre, desta cama ao lado,
Murcho, como uma flor, triste e mesquinha,
Bebendo ĂĄvida o cheiro delicado
Que aquela mĂŁo de dedos claros tinha.CĂĄlix que a alma de um lĂrio teve um dia
Em si guardada, antes que ao chĂŁo pendesse,
Breve me hei de esfazer em poeira, em nada…Oh! em que chaga viva tocaria
Quem nesta vida compreender pudesse
A saudade da luva abandonada!