VĂłs Outros! que Dizeis que o Amor Ă© um SuplĂcio
VĂłs outros! que dizeis que o Amor Ă© um suplĂcio,
Que a flor da Decepção se abre em todo o Prazer,
Que aconselhais Ă Alma o mosteiro, e o cilĂcio,
Pois nada pode consolar-nos de viver:Ponde os olhos em mim, neste celeste Amor
Que me vai desdobrando e alumiando o caminho,
Mesmo quando o alto Céu, sem frescura e sem cor,
Tem as engelhas de algum velho pergaminho…Vede como eu quero viver, por merecĂȘ-la,
Eu que sou pecador, a ela longĂnqua Estrela!
No esforço de ser bom, branco como um altar:De modo que a minha Alma, enfim, fique tão crente,
Que se possa casar Ă sua estreitamente,
Como um floco de neve a um raio de luar!
Sonetos sobre Velhos de Alberto d'Oliveira
3 resultadosVaso ChinĂȘs
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mĂĄrmor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.Fino artista chinĂȘs, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.Mas, talvez por contraste Ă desventura,
Quem o sabe?… de um velho mandarim
Também lå estava a singular figura.Que arte em pintå-la! A gente acaso vendo-a,
Sentia um nĂŁo sei quĂȘ com aquele chim
De olhos cortados Ă feição de amĂȘndoa.
A Vingança Da Porta
Era um hĂĄbito antigo que ele tinha:
Entrar dando com a porta nos batentes.
– Que te fez essa porta? a mulher vinha
E interrogava. Ele cerrando os dentes:– Nada! traze o jantar! – Mas Ă noitinha
Calmava-se; feliz, os inocentes
Olhos revĂȘ da filha, a cabecinha
Lhe afaga, a rir, com as rudes mĂŁos trementes.Urna vez, ao tornar Ă casa, quando
Erguia a aldraba, o coração lhe fala:
Entra mais devagar… – PĂĄra, hesitando…Nisto nos gonzos range a velha porta,
Ri-se, escancara-se. E ele vĂȘ na sala,
A mulher como doida e a filha morta.