Sonetos sobre Furto

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Sonetos de furto escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Noite do Roubo

A quem foram roubar os pobres trapos:
A mim, que sou humilde pobrezinho?
Olhem bem que o valor desses farrapos
Está em ter minha avó fiado o linho.

Ă“ rocas a fiar, contos de fadas!
Eu tinha-lhes amor e a simpatia
Que vem das saudades de algum dia,
Longe, das velhas noites seroadas.

Bragais de minha casa, e as roupas feitas
Por mĂŁos de minha mĂŁe, muito me assusta
Que os tomassem perversas mĂŁos suspeitas.

Ah! mĂŁos do furto, olhai, trazei-me Ă  justa
Os meus linhos — suor dumas colheitas —
E amor dos meus que a mim muito me custa.

Invocação à Noite

Ă“ deusa, que proteges dos amantes
O destro furto, o crime deleitoso,
Abafa com teu manto pavoroso
Os importantes astros vigilantes:

Quero adoçar meus lábios anelantes
No seio de Ritália melindroso;
Estorva que os maus olhos do invejoso
Turbem d’amor os sĂ´fregos instantes:

TĂ©tis formosa, tal encanto inspire
Ao namorado Sol teu nĂ­veo rosto,
Que nunca de teus braços se retire!

Tarda ao menos o carro Ă  Noite oposto,
Até que eu desfaleça, até que expire
Nas ternas ânsias, no inefável gosto.

Enquanto Febo Os Montes Acendia

Enquanto Febo os montes acendia
do CĂ©u com luminosa claridade,
por evitar do Ăłcio a castidade
na caça o tempo Délia despendia.

VĂ©nus, que entĂŁo de furto descendia,
por cativar de Anquises a vontade,
vendo Diana em tanta honestidade,
quase zombando dela, lhe dizia:

– Tu vás com tuas redes na espessura
os fugitivos cervos enredando,
mas as minhas enredam o sentido.

-Melhor Ă© (respondia a deusa pura)
nas redes leves cervos ir tomando
que tomar-te a ti nelas teu marido.

Ricordanza Della Mia GioventĂş

A minha ama-de-leite Guilhermina
Furtava as moedas que o Doutor me dava.
Sinhá-Mocinha, minha mĂŁe, ralhava…
Via naquilo a minha prĂłpria ruĂ­na!

Minha ama, entĂŁo, hipĂłcrita, afetava
Susceptibilidades de menina:
“- NĂŁo, nĂŁo fora ela -” E maldizia a sina,
Que ela absolutamente nĂŁo furtava.

Vejo, entretanto, agora, em minha cama,
Que a mim somente cabe o furto feito…
Tu sĂł furtaste a moeda, o oiro que brilha…

Furtaste a moeda sĂł, mas eu, minha ama,
Eu furtei mais, porque furtei o peito
Que dava leite para a tua filha!