Sonetos sobre Invejosos

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Sonetos de invejosos escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

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Deixa que o olhar do mundo enfim devasse
Teu grande amor que é teu maior segredo!
Que terias perdido, se, mais cedo,
Todo o afeto que sentes se mostrasse?

Basta de enganos! Mostra-me sem medo
Aos homens, afrontando-os face a face:
Quero que os homens todos, quando eu passe,
Invejosos, apontem-me com o dedo.

Olha: não posso mais! Ando tão cheio
Deste amor, que minh’alma se consome
De te exaltar aos olhos do universo…

Ouço em tudo teu nome, em tudo o leio:
E, fatigado de calar teu nome,
Quase o revelo no final de um verso.

Que o Rudo Engenho Meu me Desengana

De tão divino acento em voz humana,
De elegâncias que são tão peregrinas,
Sei bem que minhas obras não são dignas,
Que o rudo engenho meu me desengana.

Porém da vossa pena ilustre mana
Licor que vence as águas Cabalinas;
E convosco do Tejo as flores finas
Farão inveja à cópia Mantuana.

E pois a vós, de si não sendo avaras,
As filhas de Mnemósine fermosa
Partes dadas vos têm ao mundo claras;

A minha Musa, e a vossa tão famosa,
Ambas se podem nele chamar raras,
A vossa de alta, a minha de invejosa.

Invocação à Noite

Ó deusa, que proteges dos amantes
O destro furto, o crime deleitoso,
Abafa com teu manto pavoroso
Os importantes astros vigilantes:

Quero adoçar meus lábios anelantes
No seio de Ritália melindroso;
Estorva que os maus olhos do invejoso
Turbem d’amor os sôfregos instantes:

Tétis formosa, tal encanto inspire
Ao namorado Sol teu níveo rosto,
Que nunca de teus braços se retire!

Tarda ao menos o carro à Noite oposto,
Até que eu desfaleça, até que expire
Nas ternas ânsias, no inefável gosto.

Eu Cantarei um Dia da Tristeza

Eu cantarei um dia da tristeza
por uns termos tão ternos e saudosos,
que deixem aos alegres invejosos
de chorarem o mal que lhes não pesa.

Abrandarei das penhas a dureza,
exalando suspiros tão queixosos,
que jamais os rochedos cavernosos
os repitam da mesma natureza.

Serras, penhascos, troncos, arvoredos,
ave, ponte, montanha, flor, corrente,
comigo hão-de chorar de amor enredos.

Mas ah! que adoro uma alma que não sente!
Guarda, Amor, os teus pérfidos segredos,
que eu derramo os meus ais inutilmente.

Soneto VI

Ora alegre, ora triste, ou rindo, ou grave,
Ou queda, ou dando passos concertados
Ou tomeis com silêncio altos cuidados,
Ora ouça vossa voz branda e suave;

Ora abertos os olhos (onde a chave
Tem amor do que pode) ora cerrados,
Ou estêm de asperezas descuidados,
Ora sua aspereza tudo agrave;

Ou do crespo ouro que toda alma prende
Vossa cabeça rodeada seja,
Ou dele solto a luz estê invejosa:

Agora assi, agora assi vos veja,
Igualmente a meus olhos sois fermosa,
Igualmente em meu peito o amor se acende!

O Sábio não Vai em Grossos Rios

Quão bem aventurado e quão ditoso
O sábio é, que parco passa a vida
Medindo, alegre, a entrada co’a saída
Do Mundo vão, sem medo do invejoso!

Quem c’o pouco que tem vive gostoso,
Cos desejos não tem sôfrega lida.
Como subir não quer, nunca a caída
Teme, do vão Faetonte desejoso.

Se tem sede, não vai em grossos rios
Beber, sôfrego, a farto nas correntes,
Porque teme cair em seus baixios.

Pequena fonte vai buscar, prudente,
Onde bebe, seguro dos bravios
Enrolados cachões da altiva enchente.

Por Mostrar o Poder da Formosura

Por mostrar o poder da formosura,
que cativo me fez o peito isento,
desenastrava Sílvia ao fresco vento
os cabelos sobre uma fonte pura:

E vendo ao natural sua figura
tão bela no cristal húmido e lento
sentiu grande paixão no pensamento,
não vendo nele arder nova quentura.

E largando a mão resplandecente,
inquietou as águas sossegadas
dizendo não sereis mais tão ditosas,

Que pois com minha vista morre a gente,
se com me ver não sois chamas tornadas
é porque tendes frio de invejosas.