Portugal, TĂŁo Diferente de seu Ser Primeiro
Os reinos e os impérios poderosos,
Que em grandeza no mundo mais cresceram,
Ou por valor de esforço floresceram,
Ou por varĂ”es nas letras espantosos.Teve GrĂ©cia TemĂstocles; famosos,
Os CipiÔes a Roma engrandeceram;
Doze Pares a França glória deram;
Cides a Espanha, e Laras belicosos.Ao nosso Portugal, que agora vemos
TĂŁo diferente de seu ser primeiro,
Os vossos deram honra e liberdade.E em vĂłs, grĂŁo sucessor e novo herdeiro
Do Braganção estado, hå mil extremos
Iguais ao sangue e mores que a idade.
Sonetos sobre GlĂłria de LuĂs de CamĂ”es
27 resultadosOndados Fios D’ouro Reluzente
Ondados fios d’ouro reluzente,
que, agora da mĂŁo bela recolhidos,
agora sobre as rosas estendidos,
fazeis que sua beleza se acrescente;Olhos, que vos moveis tĂŁo docemente,
em mil divinos raios entendidos,
se de cĂĄ me levais alma e sentidos,
que fora, se de vĂłs nĂŁo fora ausente?Honesto riso, que entre a mor fineza
de perlas e corais nasce e parece,
se n’alma em doces ecos nĂŁo o ouvisse!Se imaginando sĂł tanta beleza
de si, em nova glĂłria, a alma se esquece,
que farĂĄ quando a vir? Ah! quem a visse!
MemĂłria De Meu Bem, Cortado Em Flores
MemĂłria de meu bem, cortado em flores
por ordem de meus tristes e maus Fados,
deixai-me descansar com meus cuidados
nesta inquietação de meus amores.Basta-me o mal presente, e os temores
dos sucessos que espero infortunados,
sem que venham, de novo, bens passados
afrontar meu repouso com suas dores.Perdi nua hora quanto em termos
tĂŁo vagarosos e largos alcancei;
leixai-me, pois, lembranças desta glória.Cumpre acabe a vida nestes ermos,
porque neles com meu mal acabarei
mil vidas, nĂŁo ua sĂł, dura memĂłria!
Se me vem tanta glĂłria sĂł de olhar-te
Se me vem tanta glĂłria sĂł de olhar-te,
Ă pena desigual deixar de ver-te;
Se presumo com obras merecer-te,
Grão paga de um engano é desejar-te.Se aspiro por quem és a celebrar-te,
Sei certo por quem sou que hei-de ofender-te;
Se mal me quero a mim por bem querer-te,
Que prémio querer posso mais que amar-te?Porque um tão raro amor não me socorre?
Ă humano tesouro! Ă doce glĂłria!
Ditoso quem Ă morte por ti corre!Sempre escrita estarĂĄs nesta memĂłria;
E esta alma viverĂĄ, pois por ti morre,
Porque ao fim da batalha Ă© a vitĂłria.
Mais Hå-de Perder quem Mais Alcança
De vós me parto, ó vida, e em tal mudança
Sinto vivo da morte o sentimento.
NĂŁo sei para que Ă© ter contentamento,
Se mais hå-de perder quem mais alcança!Mas dou-vos esta firme segurança:
Que, posto que me mate o meu tormento,
Pelas ĂĄguas do eterno esquecimento
Segura passarå minha lembrança.Antes sem vós meus olhos se entristeçam,
Que com cousa outra alguma se contentem:
Antes os esqueçais, que vos esqueçam.Antes nesta lembrança se atormentem,
Que com esquecimento desmereçam
A glĂłria que em sofrer tal pena sentem.
Tomou-me vossa vista soberana
Tomou-me vossa vista soberana
Aonde tinha as armas mais Ă mĂŁo,
Por mostrar que quem busca defensĂŁo
Contra esses belos olhos, que se engana.Por ficar da vitĂłria mais ufana,
Deixou-me armar primeiro da razĂŁo;
Cuidei de me salvar, mas foi em vĂŁo,
Que contra o Céu não vale defensa humana.Mas porém, se vos tinha prometido
O vosso alto destino esta vitĂłria,
Ser-vos tudo bem pouco estĂĄ sabido.Que posto que estivesse apercebido,
NĂŁo levais de vencer-me grande glĂłria;
Maior a levo eu de ser vencido.
Dos Ilustres Antigos Que Deixaram
Dos ilustres antigos que deixaram
tal nome, que igualou fama Ă memĂłria,
ficou por luz do tempo a larga histĂłria
dos feitos em que mais se assinalaram.Se se com cousas destes cotejaram
mil vossas, cada ĂŒa tĂŁo notĂłria,
vencera a menor delas a mor glĂłria
que eles em tantos anos alcançaram.A glória sua foi; ninguém lha tome.
Seguindo cada um vĂĄrios caminhos,
estĂĄtuas levantando no seu Templo.VĂłs, honra portuguesa e dos Coutinhos,
ilustre Dom JoĂŁo, com melhor nome
a vĂłs encheis de glĂłria e a nĂłs de exemplo.