Sonetos sobre Linhas

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Sonetos de linhas escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

PrĂłlogo

Cavo a cova como um cavalo os cascos cava
se no cavá-lo invoca a fúria de ferir
E tanto mais se cava que a alma nĂŁo se lava
e as águas já me levam léguas a fingir

Cava costura cavo Ă  cava enviesada
e o talhe tinge a sombra em descaĂ­da pena
Nessa escritura a sina foge desgarrada
e o corte torce a mĂŁo e a garra do poema

E dono nĂŁo sou mais senĂŁo o torto artĂ­fice
dessas linhas traçadas a dois e por um
E assim me assino esse uno e esse outro Majnun
que por louca paixĂŁo da noite Ă© seu partĂ­cipe

mesmo sem Laila veste a dor e se vislumbra
nos lobos do deserto donos da penumbra

XXVI

NĂŁo vĂŞs, Nise, este vento desabrido,
Que arranca os duros troncos? NĂŁo vĂŞs esta,
Que vem cobrindo o céu, sombra funesta,
Entre o horror de um relâmpago incendido?

NĂŁo vĂŞs a cada instante o ar partido
Dessas linhas de fogo? Tudo cresta,
Tudo consome, tudo arrasa, e infesta,
O raio a cada instante despedido.

Ah! não temas o estrago, que ameaça
A tormenta fatal; que o Céu destina
Vejas mais feia, mais cruel desgraça:

Rasga o meu peito, já que és tão ferina;
Verás a tempestade, que em mim passa;
Conhecerás então, o que é ruína.

Lágrimas Ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida…

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago…
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim…

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

Enquanto Dormes

NĂŁo consigo dormir… A meu lado, ressonas
em completo abandono, tranqĂĽila, confiante,
e eu me ponho a pensar em nossas vidas, nossas
vidas, juntas no sonho, como em nosso leito.

E me deixo ficar assim, na leve insĂ´nia
que me traz à lembrança tantas coisas, tantas,
que fizeram de nĂłs, de nossos passos, uma
rede em que duas linhas sĂŁo como uma sĂł.

E sem querer percebo que o que estou pensando
tem jeito de poesia, em versos simples, versos
sem rimas, e levanto-me, e venho escrever

a observar-te à distância, a ressonar, feliz,
sem poderes sequer calcular que a teu lado
um poeta te ama e sonha, e faz versos de amor.