Sonetos sobre Linhas

24 resultados
Sonetos de linhas escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Linhas Paralelas

Compreendemo-nos sempre incompreendidos,
como dois orgulhosos, sempre assim,
-nĂŁo gostava de ti… nem tu de mim…
afirmĂĄvamos ambos convencidos…

Isso dava-se outrora, em tempos idos,
antes do nosso amor chegar ao fim…
-hoje, depois de tanto orgulho, enfim,
nem somos vencedores nem vencidos…

Foi pouco tempo de namoro o nosso,
-nĂŁo me esqueces no entanto totalmente,
como de todo te esquecer nĂŁo posso…

Linhas iguais… Nascemos como um par
que, em paralelas, orgulhosamente
hĂĄ de seguir sem nunca se encontrar!…

Soneto De Agosto

Tu me levaste eu fui… Na treva, ousados
Amamos, vagamente surpreendidos
Pelo ardor com que estĂĄvamos unidos
NĂłs que andĂĄvamos sempre separados.

Espantei-me, confesso-te, dos brados
Com que enchi teus patéticos ouvidos
E achei rude o calor dos teus gemidos
Eu que sempre os julgara desolados.

SĂł assim arrancara a linha inĂștil
Da tua eterna tĂșnica inconsĂștil…
E para a glĂłria do teu ser mais franco

Quisera que te vissem como eu via
Depois, Ă  luz da lĂąmpada macia
O pĂșbis negro sobre o corpo branco.

Otelo

Quem minha angĂșstia suportar, prefira
a morte, redentora, Ă  desventura
de nĂŁo poder, nas vascas da loucura,
distinguir a verdade da mentira.

Infrene dĂșvida, implacĂĄvel ira,
esta que me alucina e me tortura!
– Ter ciĂșmes da luz, formosa e pura,
do chĂŁo, da sombra e do ar que se respira!

Invejo a veste que te esconde! a espuma
que, beijando teu corpo, linha a linha,
toda do teu aroma se perfuma!

Amo! E o delĂ­rio desta dor mesquinha,
faz que eu deseje ser tu mesma, em suma,
para ter a certeza de que Ă©s minha!

Soneto Com Estrambote Enviesado

Alfaiate de mim costuro a roupa
que cabe ao figurino que me coube.

SĂł meu verso protege essa amargura
desfiada de dia ao sol veloz,
para Ă  noite tecer nova textura,
novelo de silĂȘncio ao rĂ©s da voz.

Enxoval construĂ­do nessa usura
solitĂĄria de andaimes, num retrĂłs
de linha vertical, que se pendura
na pĂȘnsil teia atada, fio em foz

desse rio agulha que me costura
ao rendilhado de ĂĄguas tropicais,
que sabe de saudades no meu cais.

Viageiro de uma sanha que me traz
sempre de volta ao tear do meu destino
na seda depressiva me assassino.