Sonetos sobre Liras de Cláudio Manuel da Costa

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LXXVI

Enfim te hei de deixar, doce corrente
Do claro, do suavĂ­ssimo Mondego;
Hei de deixar-te enfim; e um novo pego
Formará de meu pranto a cópia ardente.

De ti me apartarei; mas bem que ausente,
Desta lira serás eterno emprego;
E quanto influxo hoje a dever-te chego,
Pagará de meu peito a voz cadente.

Das ninfas, que na fresca, amena estância
Das tuas margens Ăşmidas ouvia,
Eu terei sempre n’alma a consonância;

Desde o prazo funesto deste dia
Serão fiscais eternos da minha ânsia
As memĂłrias da tua companhia.

I

Para cantar de amor tenros cuidados,
Tomo entre vĂłs, Ăł montes, o instrumento;
Ouvi pois o meu fĂşnebre lamento;
Se Ă©, que de compaixĂŁo sois animados:

Já vós vistes, que aos ecos magoados
Do trácio Orfeu parava o mesmo vento;
Da lira de AnfiĂŁo ao doce acento
Se viram os rochedos abalados.
Bem sei, que de outros gĂŞnios o Destino,
Para cingir de Apolo a verde rama,
Lhes influiu na lira estro divino:

O canto, pois, que a minha voz derrama,
Porque ao menos o entoa um peregrino,
Se faz digno entre vós também de fama.