Sonetos sobre LĂ­rio

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Sonetos de lírio escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Consolação

Quando Ă  noite no baile esplendoroso
Vais na onda da valsa arrebatada
Com a serena fronte reclinada
Sobre o peito feliz do par ditoso…

Mal sabes tu que existe um desditoso
Faminto de te ver, oh minha amada!
E que sente a sua alma angustiada
Longe da luz do teu olhar piedoso.

Mas quando a roxa aurora vem nascendo,
E a cotovia acorda o laranjal,
E os astros vĂŁo de todo esmorecendo;

Eu cuido ver-te, oh lĂ­rio divinal,
As minhas cartas ĂĄvida relendo
Seminua no leito virginal.

Luva Abandonada

Uma só vez calçar-vos me foi dado,
Dedos claros! A escura sorte minha,
O meu destino, como um vento irado,
Levou-vos longe e me deixou sozinha!

Sobre este cofre, desta cama ao lado,
Murcho, como uma flor, triste e mesquinha,
Bebendo ĂĄvida o cheiro delicado
Que aquela mĂŁo de dedos claros tinha.

CĂĄlix que a alma de um lĂ­rio teve um dia
Em si guardada, antes que ao chĂŁo pendesse,
Breve me hei de esfazer em poeira, em nada…

Oh! em que chaga viva tocaria
Quem nesta vida compreender pudesse
A saudade da luva abandonada!

O Chalé

É um chalĂ© luzido e aristocrĂĄtico,
De fulgurantes, ricos arabescos,
Janelas livres para os ares frescos,
Galante, raro, encantador, simpĂĄtico.

O sol que vibra em rubro tom prismĂĄtico,
No resplendor dos luxos principescos,
DĂĄ-lhe uns alegres tiques romanescos,
Um colorido ideal silforimĂĄtico.

HĂĄ um jardim de rosas singulares,
LĂ­rios joviais e rosas nĂŁo vulgares,
Brancas e azuis e roxas purpĂșreas.

E a luz do luar caindo em brilhos vagos,
Na placidez de adormecidos lagos
Abre esquisitas radiaçÔes sulfĂșreas.

IdĂ­lio

Quando nĂłs vamos ambos, de mĂŁos dadas,
Colher nos vales lĂ­rios e boninas,
E galgamos dum fĂŽlego as colinas
Dos rocios da noite inda orvalhadas;

Ou, vendo o mar das ermas cumeadas
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantĂĄsticas ruĂ­nas
Ao longo, no horizonte, amontoadas:

Quantas vezes, de sĂșbito, emudeces!
NĂŁo sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mĂŁo e empalideces

O vento e o mar murmuram oraçÔes,
E a poesia das coisas se insinua
Lenta e amorosa em nossos coraçÔes.

Soneto Da Mulher InĂștil

De tanta graça e de leveza tanta
Que quando sobre mim, como a teu jeito
Eu tĂŁo de leve sinto-te no peito
Que o meu prĂłprio suspiro te levanta.

To contra quem me esbato liquefeito
Rocha branca! brancura que me espanta
Brancos seios azuis, nĂ­vea garganta
Branco pĂĄssaro fiel com que me deito.

Mulher inĂștil, quando nas noturnas
CelebraçÔes, nåufrago em teus delírios
Tenho-te toda, branca, envolta em brumas

SĂŁo teus seios tĂŁo tristes como urnas
São teus braços tão finos como lírios
É teu corpo tão leve como plumas.

Regenerada

De mĂŁos postas, Ă  luz de frouxos cĂ­rios
Rezas para as Estrelas do Infinito,
Para os Azuis dos siderais EmpĂ­reos
Das OraçÔes o doloroso rito.

Todos os mais recĂŽnditos martĂ­rios,
As angĂșstias mortais, teu lĂĄbio aflito
Soluça, em preces de luar e lírios,
Num trĂȘmulo de frases inaudito.

Olhos, braços e låbios, mãos e seios,
Presos, d’estranhos, mĂ­sticos enleios,
JĂĄ nas MĂĄgoas estĂŁo divinizados.

Mas no teu vulto ideal e penitente
Parece haver todo o calor veemente
Da febre antiga de gentis Pecados.

AtĂ© que um Dia…

Meus versos eram rosas, lĂ­rios, heras,
borboletas, regatos, cotovias
cantando suas doces melodias,
anjos, sereias, ninfas e quimeras.

Meus versos eram pombas entre as feras
e, na festa das horas e dos dias,
ia dançando penas e alegrias
e o ano tinha quatro primaveras.

E a festa continua… Ă© tambĂ©m festa
o cardo e a urze, o tojo, a murta, a giesta,
a chuva no beiral, o vento Norte,

o gosto a mar, a lĂĄgrimas, a sal,
até que um dia a vida, a bem ou mal,
exausta de cantar me empreste Ă  morte.

Violinos

Pelas bizarras, gĂłticas janelas
De um tempo medieval o sol ondula:
Nunca os vitrais viram visÔes mais belas
Quando, no ocaso, o sol os doura e oscula…

Doces, multicores aquarelas
Sobre um saudoso cĂ©u que alĂ©m se azula…
Calma, serena, divinal, entre eras,
A pomba ideal dos Ângelus arrula…

Rezam de joelhos anjos de mĂŁos postas
Através dos vitrais, e nas encostas
Dos montes sobe a claridade ondeando…

É a lua de Deus, que as curves meigas
Foi ondular pelos vergéis e veigas
MagnĂłlias e lĂ­rios desfolhando…

5A E 6A Sombras – CĂąndida E Laura

Como no tanque de um palĂĄcio mago,
Dous alvos cisnes na bacia lisa,
Como nas ĂĄguas que o barqueiro frisa,
Dous nenĂșfares sobre o azul do lago,

Como nas hastes em balouço vago
Dous lĂ­rios roxos que acalenta a brisa,
Como um casal de juritis que pisa
O mesmo ramo no amoroso afago….

Quais dous planetas na cerĂșlea esfera,
Como os primeiros pĂąmpanos das vinhas,
Como os renovos nos ramais da hera,

Eu vos vejo passar nas noites minhas,
Crianças que trazeis-me a primavera…
Crianças que lembrais-me as andorinhas! …