Horas Mortas
Breve momento apĂłs comprido dia
De incÎmodos, de penas, de cansaço
Inda o corpo a sentir quebrado e lasso,
Posso a ti me entregar, doce Poesia.Desta janela aberta, Ă luz tardia
Do luar em cheio a clarear no espaço,
Vejo-te vir, ouço-te o leve passo
Na transparĂȘncia azul da noite fria.Chegas. O Ăłsculo teu me vivifica
Mas Ă© tĂŁo tarde! RĂĄpido flutuas
Tornando logo à etérea imensidade;E na mesa em que escrevo apenas fica
Sobre o papel – rastro das asas tuas,
Um verso, um pensamento, uma saudade.
Sonetos sobre Luar de Alberto d'Oliveira
3 resultadosCheiro De EspĂĄdua
“Quando a valsa acabou, veio Ă janela,
Sentou-se. O leque abriu. Sorria e arfava,
Eu, viração da noite, a essa hora entrava
E estaquei, vendo-a decotada e bela.Eram os ombros, era a espĂĄdua, aquela
Carne rosada um mimo! A arder na lava
De improvisa paixĂŁo, eu, que a beijava,
Hauri sequiosa toda a essĂȘncia dela!Deixei-a, porque a vi mais tarde, oh! ciĂșme!
Sair velada da mantilha. A esteira
Sigo, até que a perdi, de seu perfume.E agora, que se foi, lembrando-a ainda,
Sinto que Ă luz do luar nas folhas, cheira
Este ar da noite Ă quela espĂĄdua linda!”
VĂłs Outros! que Dizeis que o Amor Ă© um SuplĂcio
VĂłs outros! que dizeis que o Amor Ă© um suplĂcio,
Que a flor da Decepção se abre em todo o Prazer,
Que aconselhais Ă Alma o mosteiro, e o cilĂcio,
Pois nada pode consolar-nos de viver:Ponde os olhos em mim, neste celeste Amor
Que me vai desdobrando e alumiando o caminho,
Mesmo quando o alto Céu, sem frescura e sem cor,
Tem as engelhas de algum velho pergaminho…Vede como eu quero viver, por merecĂȘ-la,
Eu que sou pecador, a ela longĂnqua Estrela!
No esforço de ser bom, branco como um altar:De modo que a minha Alma, enfim, fique tão crente,
Que se possa casar Ă sua estreitamente,
Como um floco de neve a um raio de luar!