Magro, de Olhos azuis, CarĆ£o Moreno
Magro, de olhos azuis, carĆ£o moreno,
Bem servido de pĆ©s, meĆ£o na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e nĆ£o pequeno;Incapaz de assistir num sĆ³ terreno,
Mais propenso ao furor do que Ć ternura,
Bebendo em nĆveas mĆ£os por taƧa escura
De zelos infernais letal veneno;Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moƧas mil) num sĆ³ momento,
E somente no altar amando os frades;Eis Bocage, em quem luz algum talento;
SaĆram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.
Sonetos sobre MoƧos de Manuel Maria Barbosa du Bocage
3 resultadosPreside O Neto Da Rainha Ginga
Preside o neto da rainha Ginga
Ć corja vil, aduladora, insana.
Traz sujo moƧo amostras de chanfana,
Em copos desiguais se esgota a pinga.Vem pĆ£o, manteiga e chĆ”, tudo Ć catinga;
Masca farinha a turba americana;
E o oragotango a corda Ć banza abana,
Com gesto e visagens de mandinga.Um bando de comparsas logo acode
Do fofo Conde ao novo Talaveiras;
Improvisa berrando o rouco bode.Aplaudem de contĆnuo as frioleiras
Belmiro em ditirambo, o ex-frade em ode.
Eis aqui de Lereno as quartas-feiras.
Autobiografia
De cerĆŗleo gabĆ£o nĆ£o bem coberto,
passeia em SantarƩm chuchado moƧo,
mantido, Ć s vezes, de sucinto almoƧo,
de ceia casual, jantar incerto;dos esbrugados peitos quase aberto,
versos impinge por miĆŗde e grosso;
e do que em frase vil chamam caroƧo,
se o que, Ć© vox clamantis in deserto;pede Ć s moƧas ternura, e dĆ£o-lhe motes;
que, tendo um coraĆ§Ć£o como estalage,
vĆ£o nele acomodando a mil peixotes.Sabes, leitor, quem sofre tanto ultraje,
cercado de um tropel de franchinotes?
ā Ć o autor do soneto: ā Ć© o Bocage.