Sonetos sobre MoƧos de Manuel Maria Barbosa du Bocage

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Sonetos de moƧos de Manuel Maria Barbosa du Bocage. Leia este e outros sonetos de Manuel Maria Barbosa du Bocage em Poetris.

Magro, de Olhos azuis, Carão Moreno

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que Ć  ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno;

Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades;

Eis Bocage, em quem luz algum talento;
SaĆ­ram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.

Preside O Neto Da Rainha Ginga

Preside o neto da rainha Ginga
ƀ corja vil, aduladora, insana.
Traz sujo moƧo amostras de chanfana,
Em copos desiguais se esgota a pinga.

Vem pão, manteiga e chÔ, tudo à catinga;
Masca farinha a turba americana;
E o oragotango a corda Ć  banza abana,
Com gesto e visagens de mandinga.

Um bando de comparsas logo acode
Do fofo Conde ao novo Talaveiras;
Improvisa berrando o rouco bode.

Aplaudem de contĆ­nuo as frioleiras
Belmiro em ditirambo, o ex-frade em ode.
Eis aqui de Lereno as quartas-feiras.

Autobiografia

De cerúleo gabão não bem coberto,
passeia em SantarƩm chuchado moƧo,
mantido, Ơs vezes, de sucinto almoƧo,
de ceia casual, jantar incerto;

dos esbrugados peitos quase aberto,
versos impinge por miĆŗde e grosso;
e do que em frase vil chamam caroƧo,
se o que, Ć© vox clamantis in deserto;

pede às moças ternura, e dão-lhe motes;
que, tendo um coração como estalage,
vão nele acomodando a mil peixotes.

Sabes, leitor, quem sofre tanto ultraje,
cercado de um tropel de franchinotes?
– Ɖ o autor do soneto: – Ć© o Bocage.