O Corpo

Ante as portas desgarradas, paradoxal
Ć© a morte: impossĆ­vel, feito realidade,
acaso predito. Corpo, deus imortal,
para sempre cego e mudo, abandona-te ao livre

ar. Que te transformes e assemelhes Ć  noite.
Tempestade final das sombras, foste, corpo,
respiraĆ§Ć£o com voz, Ć”rea que habitaste,
vƔria e discordante, a cada movimento.

E agora que a luz desfalece e nĆ£o a tocas,
nem por ela Ć©s tocado, a palavra deixou
de ser a tua pĆ”tria e nĆ£o mais esfolias

o espaƧo. Agora, que jƔ nada mudarƔ,
nenhuma eternidade te rescende. A morte
petrifica o frƔgil espaƧo que foi teu.