LVIII
Altas serras, que ao CĂ©u estais servindo
De muralhas, que o tempo nĂŁo profana,
Se Gigantes nĂŁo sois, que a forma humana
Em duras penhas foram confundindo?lá sobre o vosso cume se está rindo
O Monarca da luz, que esta alma engana;
Pois na face, que ostenta, soberana,
O rosto de meu bem me vai fingindo.Que alegre, que mimoso, que brilhante
Ele se me afigura! Ah qual efeito
Em minha alma se sente neste instante!Mas ai! a que delĂrios me sujeito!
Se quando no Sol vejo o seu semblante,
Em vĂłs descubro Ăł penhas o seu peito?
Sonetos sobre Peito de Cláudio Manuel da Costa
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LXVI
NĂŁo te assuste o prodĂgio: eu, caminhante,
Sou uma voz, que nesta selva habito;
Chamei-me o pastor Fido; de um delito
Me veio o meu estrago; eu fui amante.Uma ninfa perjura, uma inconstante
Neste estado me pĂ´s: do peito aflito,
Por eterno castigo, arranco um grito,
Que desengane o peregrino errante.Se em ti se dá piedade, ó passageiro,
(Que assim o pede a minha sorte escura)
Atende ao meu aviso derradeiro:Lágrimas não te peço, nem ternura:
Por voto um desengano, te requeiro
Que consagres Ă minha sepultura.