Sonetos sobre Velhos de Francisco Joaquim Bingre

3 resultados
Sonetos de velhos de Francisco Joaquim Bingre. Leia este e outros sonetos de Francisco Joaquim Bingre em Poetris.

Às Cambalhotas Sempre Anda a Través

Às cambalhotas sempre anda a través
O Mundo, sem poder-se endireitar.
Velho, bĂŞbado e tonto, a cambalear,
Já não pode suster-se sobre os pés.

Tudo nele se vê hoje de invés
Pois seu eixo quebrou, anda a rolar
Não há homem que o possa consertar:
SĂł se for, do Arquitecto a mĂŁo que o fez.

Tornou-se num piĂŁo: qualquer rapaz
O faz dar quatro voltas c’um cordel
E na palma da mão dançar o faz.

O que hoje fez de grande o seu papel,
Amanhã representa de Gil Blás
Neste imenso teatro de Babel.

Ă€ Sua Velhice

Meu corpo assaz tem sido espicaçado
Com buĂ­dos punhais, por mĂŁo da Morte,
Que arrebatado tem, da minha corte,
Grande rancho de quanto tenho amado.

NĂŁo me poupa a cruel no triste estado
Do caduco viver da minha Sorte:
Quando era vigoroso, moço forte,
Suportava com mais valor meu Fado.

Então as minhas ásperas feridas
NĂŁo tinham para mim tardias curas,
Porque o Tempo receitas tem, sabidas.

Mas velho e c’o vapor das sepulturas,
Como posso curar as desabridas
Chagas, das minhas novas amarguras?

Retrato das Mulheres em Todas as Idades

Mulher, de quinze a vinte Ă© fresca rosa;
De vinte, a vinte e cinco Ă© de exp’rimenta.
De vinte cinco a trinta, a graça aumenta:
Ditoso nesta idade quem a goza!

De trinta a trinta e cinco Ă© mal gostosa
Porém, pode passar, com sal, pimenta,
Mas já dos trinta e cinco aos quarenta
Vai-se tornando assaz fastidiosa.

De quarenta e cinco ela Ă© bachareleira,
Fala fanhoso e é já de pouco gabo.
De cinquenta cerrados Ă© santeira!

Aos sessenta este seu retrato acabo:
Menina, moça, velha benzedeira,
Bruxa gogosa, entĂŁo, leve-a o diabo!