A Hipocrisia do Amor ao Povo
Estes amam o povo, mas nĂŁo desejariam, por interesse do prĂłprio amor, que saĂsse do passo em que se encontra; deleitam-se com a ingenuidade da arte popular, com o imperfeito pensamento, as superstiçÔes e as lendas; vĂȘem-se generosos e sensĂveis quando se debruçam sobre a classe inferior e traduzem, na linguagem adamada, o que dela julgam perceber; Ă© muito interessante o animal que examinam, mas que nĂŁo tente o animal libertar-se da sua condição; estragaria todo o quadro, toda a equilibrada posição; em nome da estĂ©tica e de tudo o resto convĂ©m que se mantenha.
HĂĄ tambĂ©m os que adoram o povo e combatem por ele mas pouco mais o julgam do que um meio; a meta a atingir Ă© o domĂnio do mesmo povo por que parecem sacrificar-se; bate-lhes no peito um coração de altos senhores; se vieram parar a este lado da batalha foi porque os acidentes os repeliram das trincheiras opostas ou aqui viram maneira mais segura de satisfazer o vĂŁo desejo de mandar; nestes nĂŁo encontraremos a frase preciosa, a afectada sensibilidade, o retoque literĂĄrio; preferem o estilo de barricada; mas, como nos outros, Ă© o som do oco tambor retĂłrico o Ășltimo que se ouve.
Textos sobre Acidente de Agostinho da Silva
2 resultadosO Pensador
NĂŁo hĂĄ nenhuma vida verdadeiramente intelectual em que a polĂ©mica nĂŁo seja um acidente, um desnĂvel entre o engenho e a cultura adquirida, por um lado, e, por outro, o meio ambiente; o pensador nĂŁo Ă©, por estrutura, polemista, embora nĂŁo fuja ante a polĂ©mica, nem a considere inferior; o seu domĂnio Ă© no campo da paz, nĂŁo entre os instrumentos de guerra; quando a batalha se oferece sabe, como o filĂłsofo antigo, marchar com a calma e a severa repressĂŁo dos instintos que o mundo inteiro, ante a sua profissĂŁo, tem o direito de exigir; o seu dever de cidadĂŁo impĂ”e-lhe que tome, ao ecoar da voz bĂĄrbara, a lança que defende as oliveiras sagradas e os rĂtmicos templos. A sua linha, porĂ©m, o fio de cumeadas por que se alongam os seus passos melhores comportam apenas uma invenção superadora, um perpĂ©tuo oferecer aos seus amigos humanos de toda a descoberta possibilidade de um caminho mais belo e mais nobre. VĂȘ-se como um guia e um observador de horizontes que se estendam para alĂ©m dos limites do mar e dos limites do cĂ©u; a sua missĂŁo Ă© a de pĂŽr ao alcance de todos os que novamente contemplaram os seus olhos e de os ajudar a percorrer a estrada que abriu ou desvendou;