Amar não é Ser Egoísta
Tenho a certeza que tu és o meu maior amigo, o mais dedicado, o melhor de todos. Como eu o vi hoje bem! Como tu és leal e bom! Tão diferente de todos os outros homens que para te pagar o que no futuro hei-de dever-te, será pequena a minha vida inteira, mesmo que ela seja imensa. Os outros, amando as mulheres, são como os gatos que quando acariciam, é a eles que acariciam. Amar não é ser egoísta, é tantas, tantas vezes o sacrifício de nós próprios! A dedicação de todos os instantes, um interesse sem cálculo, uns cuidados que em pequeninas coisas se revelam e o pensamento constante de fazer a felicidade de quem se ama.
Textos sobre Certeza
146 resultadosA Razão é Contrária à Felicidade
Quanto mais uma razão cultivada se consagra ao gozo da vida e da felicidade, tanto mais o homem se afasta do verdadeiro contentamento; e daí provém que em muitas pessoas, e nomeadamente nas mais experimentadas no uso da razão, se elas quiserem ter a sinceridade de o confessar, surja um certo grau de misologia, quer dizer de ódio à razão. E isto porque, uma vez feito o balanço de todas as vantagens que elas tiram, não digo já da invenção de todas as artes do luxo vulgar, mas ainda das ciências (que a elas lhes parecem no fim e ao cabo serem também um luxo do entendimento), descobrem contudo que mais se sobrecarregaram de fadigas do que ganharam em felicidade, e que por isso finalmente invejam mais do que desprezam os homens de condição inferior que estão mais próximos do puro instinto natural e não permitem à razão grande influência sobre o que fazem ou deixam de fazer. E até aqui temos de confessar que o juízo daqueles que diminuem e mesmo reduzem a menos de zero os louvores pomposos das vantagens que a razão nos teria trazido no tocante à felicidade e ao contentamento da vida, não é de forma alguma mal-humorado ou ingrato para com a vontade do governo do mundo,
A Irresponsabilidade da Multidão
A multidão que se chama parlamento nunca se sente tão feliz como quando pode calar com gritos um orador e derrubar um ministro; a multidão que se chama comício agita-se e exalta-se, mal um grito a incita a bradar «Abaixo!» sob as janelas de um inimigo ou a reclamar a cabeça de um indivíduo odiado ou ainda a queimar qualquer símbolo do poder, quer se trate de um panfleto, quer de um palácio de justiça; a multidão reunida num teatro que dá pelo nome de público pode aplaudir uma peça nova, mas, quando estimulada, não hesita em condenar e precipitar à força de uivos e assobios quem supunha tê-lo conquistado e ser-lhe, pelo engenho, superior.
No fundo, toda a multidão é um público, que não quer dispersar sem ter assistido a um espectáculo. No entanto, selvagem como é, prefere os espectáculos trágicos; sente o circo dos gladiadores ou o torneio, mais do que a fábula pastoral. Quando se animaliza, quer sangue – pelo menos, vê-lo.
Estar entre muito incute a sensação de força, ou seja, da prepotência e, ao mesmo tempo, a certeza da irresponsabilidade e da absolvição.
Procurar o Sonho é Procurar a Verdade
A única realidade para mim são as minhas sensações. Eu sou uma sensação minha. Portanto nem da minha própria existência estou certo. Posso está-lo apenas daquelas sensações a que eu chamo minhas. A verdade? É uma coisa exterior? Não posso ter a certeza dela, porque não é uma sensação minha, e eu só destas tenho a certeza. Uma sensação minha? De quê?
Procurar o sonho é pois procurar a verdade, visto que a única verdade para mim, sou eu próprio. Isolar-se tanto quanto possível dos outros é respeitar a verdade.
Crença e Intolerância
A necessidade de fé não foi absolutamente provocada pelas religiões; foi ela, ao contrário, que as suscitou. As divindades não fazem mais do que fornecer um objecto ao nosso desejo de crer. Desde que ele se desvia das divindades, o homem entrega-se a uma fé qualquer, quimeras políticas, sortilégios ou feitiços. (…) Uma das mais constantes características gerais das crenças é a sua intolerância. Ela é tanto mais intransigente quanto mais forte é a crença. Os homens dominados por uma certeza não podem tolerar aqueles que não a aceitam.
Os Anos Perdidos por Vir
O pior não era compreender de repente que aquela que eu considerara durante tanto tempo a peça mais importante no quebra-cabeças da minha biografia se desprendera de mim naturalmente, da noite para o dia, com essa facilidade que fere, mas entrever pela primeira vez que quando algo ou alguém nos dá mesmo cabo da vida isso é definitivo: costumamos pensar nos anos perdidos sempre em relação ao tempo que ficou para trás, mas o verdadeiramente terrível são os anos perdidos por vir. Venha o que vier, virá mais pálido e mais fraco, se é que não nascerá já morto. Agora via claramente a enorme fragilidade do que até pouco antes se apresentava aos meus olhos como indestrutível. Não me doía estar só mas a certeza de que, de uma maneira ou de outra, o estaria sempre dali em diante, na medida em que qualquer mulher que no futuro quisesse aproximar-se de mim, por muito nua que viesse, por transparente que fosse o seu olhar, eu não conseguiria vê-la senão como a desconhecida indiferente e desmemoriada que sem dúvida se tornaria, mais tarde ou mais cedo, uma estranha fingindo que tanto fazia, que eu nunca fora nada, caminhando por passeios opostos na minha própria cidade,