O PrestĂgio Ă© Sempre Enganador
Tendo a generalidade das opiniões que a educação nos inculca, unicamente a educação por base, facilmente nos habituamos a admitir, com prontidĂŁo, um conceito defendido por um personagem aureolado de prestĂgio.
Sobre os assuntos tĂ©cnicos da nossa profissĂŁo, somos capazes de formular conceitos muito seguros; mas, no tocante ao resto, nĂŁo procuramos sequer raciocinar, preferindo admitir, com os olhos fechados, as opiniões que nos sĂŁo impostas por um personagem ou um grupo dotado de prestĂgio.
De facto, quer se seja estadista, artista, escritor ou sábio, o destino depende, sobretudo, da quantidade de prestĂgio que se possui e, por conseguinte, do grau de sugestĂŁo inconsciente que se pode criar. O que determina o ĂŞxito de um homem Ă© a dominação mental que ele exerce. O completo imbecil, entretanto, alcança ĂŞxito, algumas vezes, porquanto, nĂŁo tendo consciĂŞncia da sua imbecilidade, jamais hesita em afirmar com autoridade. Ora, a afirmação enĂ©rgica e repetida possui prestĂgio. O mais vulgar dos «camelos», quando energicamente afirma a imaginária superioridade de um produto, exerce prestĂgio na multidĂŁo que o circunda.
(…) Mesmo entre sábios eminentes, o prestĂgio Ă©, muitas vezes, um dos factores mais certos de uma convicção. Para os espĂritos ordinários, ele o Ă© sempre.
Textos sobre Completos de Gustave Le Bon
4 resultadosPrazer e Dor SĂŁo as Ăšnicas Certezas da Vida
Os filĂłsofos tĂŞm tentado abalar todas as nossas certezas e mostrar que do mundo conhecemos apenas aparĂŞncias. Possuiremos sempre, porĂ©m, duas grandes certezas, que nada poderia destruir: o prazer e a dor. Toda a nossa actividade deriva delas. As recompensas sociais, os paraĂsos e os infernos criados pelos cĂłdigos religiosos ou civis baseiam-se na acção dessas certezas, cuja evidente realidade nĂŁo pode ser contestada.
Desde que a vida se manifesta, surgem o prazer e a dor. Não é o pensamento, mas a sensibilidade, que nos revela o nosso “eu”. Se dissesse: “Sinto, logo existo” ao invés de: “Penso, logo existo”, Descartes estaria muito perto da verdade. Assim modificada, a sua fórmula aplica-se a todos os seres e não a uma fração apenas da humanidade. Dessas duas certezas poder-se-ia deduzir a completa filosofia prática da vida. Fornecem uma resposta segura à eterna pergunta tão repetida desde o Eclesiastes: por que tanto trabalho e tantos esforços, já que a morte nos espera e o nosso planeta se extingará um dia?
PorquĂŞ? Porque o presente ignora o futuro e no presente a Natureza condena-nos a procurar o prazer e a evitar a dor.
O operário, curvado sob o peso do trabalho,
Dificuldade de Prever o Comportamento de qualquer Pessoa, o Nosso Inclusivamente
Sendo variável o nosso “eu”, que Ă© dependente das circunstâncias, um homem jamais deve supor que conhece outro. Pode somente afirmar que, nĂŁo variando as circunstâncias, o procedimento do indivĂduo observado nĂŁo mudará. O chefe de escritĂłrio que já redige há vinte anos relatĂłrios honestos, continuará sem dĂşvida a redigi-los com a mesma honestidade, mas cumpre nĂŁo o afirmar em demasia. Se surgirem novas circunstâncias, se uma paixĂŁo forte lhe invadir a mente, se um perigo lhe ameaçar o lar, o insignificante burocrata poderá tornar-se um celerado ou um herĂłi.
As grandes oscilações da personalidade observam-se quase exclusivamente na esfera dos sentimentos. Na da inteligência, elas são muito fracas. Um imbecil permanecerá sempre imbecil.
As possĂveis variações da personalidade, que impedem de conhecermos a fundo os nossos semelhantes, tambĂ©m obstam a que cada qual se conheça a si prĂłprio. O adágio “Nosce te ipsum” dos antigos filĂłsofos constitui um conselho irrealizável. O “eu” exteriorizado representa habitualmente uma personalidade de emprĂ©stimo, mentirosa. Assim Ă©, nĂŁo sĂł porque atribuĂmos a nĂłs mesmos muitas qualidades e nĂŁo reconhecemos absolutamente os nossos defeitos, como tambĂ©m porque o nosso “eu” contĂ©m uma pequena porção de elementos conscientes, conhecĂveis em rigor, e, em grande parte,
As Oscilações da Personalidade
Pretender que a nossa personalidade seja mĂłvel e susceptĂvel de grandes mudanças Ă©, por vezes, noção um pouco contrária Ă s idĂ©ias tradicionais atinentes Ă estabilidade do “eu”. A sua unidade foi durante muito tempo um dogma indiscutĂvel. Factos numerosos vieram provar quanto esta ideia era fictĂcia.
O nosso “eu” Ă© um total. Compõe-se da adição de inumeráveis “eu” celulares. Cada cĂ©lula concorre para a unidade de um exĂ©rcito. A homogeneidade dos milhares de indivĂduos que o compõem resulta somente de uma comunidade de acção que numerosas coisas podem destruir.
É inĂştil objectar que a personalidade dos seres parece, em geral, bastante estável. Se ela nunca varia, com efeito, Ă© porque o meio social permanece mais ou menos constante. Se subitamente esse meio se modifica, como em tempo de revolução, a personalidade de um mesmo indivĂduo poderá transformar-se por completo. Foi assim que se viram, durante o Terror, bons burgueses reputados pela sua brandura tornarem-se fanáticos sanguinários. Passada a tormenta e, por conseguinte, representando o antigo meio e o seu impĂ©rio, eles readquiriram sua personalidade pacifica. Desenvolvi, há muito tempo, essa teoria e mostrei que a vida dos personagens da Revolução era incompreensĂvel sem ela.
De que elementos se compõe o “eu”,