Saber Terminar uma Amizade Indesejável
Sucede, tambĂ©m, como por calamidade, que algumas vezes Ă© necessário romper uma amizade: porque passo agora das amizades dos sábios Ă s ligações vulgares. Muitas vezes quando os vĂcios se revelam num homem, os seus amigos sĂŁo as suas vĂtimas como todos os outros: contudo Ă© sobre eles que recai a vergonha. É preciso, pois, desligar-se de tais amizades —, afrouxando o laço pouco a pouco e, como ouvi dizer a CatĂŁo, Ă© necessário descoser antes que despedaçar, a menos que se nĂŁo haja produzido um escândalo de tal modo intolerável, que nĂŁo fosse nem justo nem honesto, nem mesmo possĂvel, deixar de romper imediatamente.
Mas se o carácter e os gostos vierem a mudar, o que acontece muitas vezes; se algum dissentimento polĂtico separar dois amigos (nĂŁo falo mais, repito-o, das amizades dos sábios, mas das afeições vulgares), Ă© preciso tomar cuidado em, desfazendo a amizade, nĂŁo a substituir logo pelo Ăłdio. Nada mais vergonhoso, com efeito, que estar em guerra com aquele que se amou por muito tempo.
(…) Apliquemo-nos, pois, antes de tudo, em afastar toda a causa de ruptura: se contudo, acontecer alguma, que a amizade pareça antes extinta do que estrangulada. Temamos sobretudo que ela nĂŁo se transforme em Ăłdio violento,
Textos sobre Dois de CĂcero
2 resultadosUma Alma Grande e Corajosa
Um espĂrito corajoso e grande Ă© reconhecido principalmente devido a duas caracterĂsticas: uma consiste no desprezo pelas coisas exteriores, na convicção de que o homem, independentemente do que Ă© belo e conveniente, nĂŁo deve admirar, decidir ou escolher coisa alguma nem deixar-se abater por homem algum, por qualquer questĂŁo espiritual ou simplesmente pela má fortuna. A outra consiste no facto – especialmente quando o espĂrito Ă© disciplinado na maneira acima referida – de se dever realizar feitos, nĂŁo sĂł grandes e seguramente, bastante Ăşteis, mas ainda em grande nĂşmero, árduos e cheios de trabalhos e perigos, tanto para a vida como para as muitas coisas que Ă vida interessam.
Todo o esplendor, toda a dimensĂŁo (devo acrescentar ainda a utilidade), pertencem Ă segunda destas duas caracterĂsticas; porĂ©m, a causa e o princĂpio eficiente, que os tornam homens grandes, Ă primeira.
Naquela está, com efeito, aquilo que torna os espĂritos excelentes e desdenhosos das coisas humanas. Na verdade, pode isto ser reconhecido por duas condições: em primeiro lugar, se estimares alguma coisa como sendo boa unicamente porque Ă© honesta, em segundo lugar, se te encontrares livre de toda a perturbação de espĂrito. Consequentemente, o facto de se ter em pouca conta aquelas coisas humanas e de se desprezar,