Textos sobre Espera de José Luís Nunes Martins

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Textos de espera de José Luís Nunes Martins. Leia este e outros textos de José Luís Nunes Martins em Poetris.

A Infelicidade do Desejo

Um desejo é sempre uma falta, carência ou necessidade. Um estado negativo que implica um impulso para a sua satisfação, um vazio com vontade de ser preenchido.

Toda a vida é, em si mesma, um constante fluxo de desejos. Gerir esta torrente é essencial a uma vida com sentido. Cada homem deve ser senhor de si mesmo e ordenar os seus desejos, interesses e valores, sob pena de levar uma vida vazia, imoderada e infeliz. Os desejos são inimigos sem valentia ou inteligência, dominam a partir da sua capacidade de nos cegar e atrair para o seu abismo.
A felicidade é, por essência, algo que se sente quando a realidade extravasa o que se espera. A superação das expectativas. Ser feliz é exceder os limites preestabelecidos, assim se conclui que quanto mais e maiores forem os desejos de alguém, menores serão as suas possibilidades de felicidade, pois ainda que a vida lhe traga muito… esse muito é sempre pouco para lhe preencher os vazios que criou em si próprio.

Na sociedade de consumo em que vivemos há cada vez mais necessidades. As naturais e todas as que são produzidas artificialmente. Hoje, criam-se carências para que se possa vender o que as preenche e anula.

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Náufragos que Navegam Tempestades

As tempestades são sempre períodos longos. Poucas pessoas gostam de falar destes momentos em que a vida se faz fria e anoitece, preferem histórias de praias divertidas às das profundas tragédias de tantos naufrágios que são, afinal, os verdadeiros pilares da nossa existência.

Gente vazia tende a pensar em quem sofre como fraco… quando fracos são os que evitam a qualquer custo mares revoltos, tempestades em que qualquer um se sente minúsculo, mas só os que não prestam o são verdadeiramente. Para a gente de coração pequeno, qualquer dor é grande. Os homens e mulheres que assumem o seu destino sabem que, mais cedo ou mais tarde, morrerão, mas há ainda uma decisão que lhes cabe: desviver a fugir ou morrer sofrendo para diante.
Da morte saímos, para a morte caminhamos. O que por aqui sofremos pode bem ser a forma que temos de nos aproximarmos do coração da verdade.

Haverá sempre quem seja mestre de conversas e valente piloto de naus alheias, os que sabem sempre tudo, principalmente o que é (d)a vida do outro, e mais especificamente se estiver a passar um mau bocado. Logo se apressam a dizer que depois da tempestade vem a bonança,

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O Vento que Decidirmos Ser

Uma das mais importantes escolhas que cada um de nós deve fazer é a de escolhermos qual o foco prin-cipal da nossa atenção e cuidado. Se o mundo à nossa volta, a fim de o mudar, ou se o interior de nós mesmos.

Quase todos os bens e males da nossa existência partem do nosso interior, pelo que será aí que importa aperfeiçoar, de forma profunda, tudo o que existe no nosso íntimo.

Um dos trabalhos mais importantes de cada um de nós será o de saber bem o que queremos. O segredo da felicidade pode estar aí: alterar em nós o que nos possa estar a causar desnecessárias ansiedades. Quantas vezes desejamos algo que está fora da nosso controlo?
Existem três tipos de coisas: as que dependem apenas de nós; as que escapam por completo à nossa decisão; e, aquelas sobre as quais temos algum controlo, mas não total.

Se fizermos a nossa alegria depender de algo que não está na nossa mão, então será fácil que nos sinta-mos roubados de algo que, na verdade, nunca foi nosso. Mesmo nos casos em que o conseguimos obter, a ansiedade associada à posse, até pela iminência de o perder da mesma forma que o ganhámos,

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Dar o que Temos é Pouco

Quem apenas dá o que tem dá sempre pouco. Cada um de nós é muito mais do que aquilo que possui. Assim, mais do que dar o que temos, devemos dar o que somos.

Quem dá o que é irradia o bem da sua existência, semeia-se enquanto bondade… faz-se mais e melhor.

Há quem tenha tudo e não seja nada. Julgando que o seu valor está no que possui, exibe os seus bens como se fossem condecorações… desprezando não só o que é, mas, e ainda mais importante, o que poderia ser.

Quanto às coisas materiais, será melhor merecer o que não se tem do que ter o que não se merece… tal como é preferível ser credor do que devedor.

Nunca é bom depender do que não depende de nós.
Hoje confundem-se desejos com necessidades. Na verdade, não são sequer comparáveis, na medida em que os desejos buscam uma satisfação inalcançável. Pois assim que se sacia um desejo, logo outro, maior, toma o seu lugar. São vontades estranhas à nossa paz e capazes de alimentar contra nós uma guerra sem fim. É importante que atendamos às nossas verdadeiras carências, mas com o cuidado de afastar daí todos os desejos que querem passar por elas.

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Nascer em Nós

Depositamos pouca fé em nós mesmos. Acreditamos que as boas soluções só podem chegar-nos de fora, como se fossemos incapazes de as criar… Quantas vezes a fé e a esperança aparecem como uma desculpa confortável em que nos instalamos e desistimos de trabalhar!? Queremos muito que tudo mude (para melhor), de uma vez só, com uma só chave milagrosa e… enquanto estamos a dormir.
Outro é o desafio da existência humana. Para além de saber esperar, é preciso lutar e sofrer. Esperar não é ficar à espera, mas encontrar forma para que as coisas aconteçam. O melhor do mundo está no fundo de nós, mas é preciso que o façamos nascer e crescer…

As soluções estão, na maior parte dos casos, no seio dos problemas, quase sempre no exato ponto onde eles nasceram. Os problemas não são becos sem saída, mas muros a transpor: não são algo acabado, mas sim processos… não são quês, são comos.

Deus pode nascer em nós, não vem de fora, como um forasteiro. É connosco. É-nos íntimo. São as nossas mãos que o encarnam… é pela nossa vida que Ele quer chegar ao mundo.

Há muitos que o querem no alto,

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O que é Dar a Vida?

Dar a vida é amar. Abdicar de si… em favor de um outro. Vencer egoísmos e medos com a convicção de que dar-se nunca é um excesso nem uma cobardia.

Dar a vida é perder-se para se encontrar. Entregar-se para se receber… É aparecer, sair de si até ao ponto de se poder ver bem diante dos próprios olhos.

Dar a vida é vivê-la tal como ela é na essência: generosa! Ser mais vida na vida de outro alguém. Cuidar da existência do outro com a sua… dar a vida é ser outro. Melhor. Muito.
Dar a vida é ser um sorriso apenas com um olhar. É oferecer lágrimas a quem já perdeu as suas. Ser um silêncio onde há paz… e uma melodia que revela que o melhor do mundo repousa em nós… à espera de nós.

Dar a vida é reconhecer a beleza que há neste mundo. No outro e no mundo do outro. É contribuir para o equilíbrio e ficar em harmonia… com tudo e com cada coisa, compreendendo que a verdadeira alegria é a coisa mais séria da vida.

Dar a vida é guardar-se para o momento oportuno,

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