Textos sobre EssĂȘncia de Emil Cioran

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Textos de essĂȘncia de Emil Cioran. Leia este e outros textos de Emil Cioran em Poetris.

O Saber Altera a Economia de um Ser

O que aprendemos por nĂłs prĂłprios, seja que conhecimento for extraĂ­do do nosso prĂłprio fundo, Ă© algo que teremos que expiar por um suplemento de desequilĂ­brio. Fruto de uma desordem Ă­ntima, de uma doença definida ou difusa, de uma perturbação na raiz da nossa existĂȘncia, o saber altera a economia de um ser. Cada um de nĂłs terĂĄ que pagar pelo mais pequeno golpe que vibra num universo criado para a indiferença e para a estagnação; cedo ou tarde, arrepender-se-ĂĄ, arrepender-nos-emos, de o nĂŁo ter, ou de o nĂŁo termos, deixado intacto.
O que sendo verdade para o conhecimento Ă© mais verdade ainda para a ambição, porque invadir o terreno de outrem acarreta consequĂȘncias mais graves e mais imediatas do que invadir o terreno do mistĂ©rio ou simplesmente da matĂ©ria.
Começamos por fazer tremer os outros, mas os outros acabam por nos comunicar os seus terrores. É por isso que os tiranos, tambĂ©m eles, vivem no pavor. O que o nosso futuro senhor hĂĄ-de conhecer serĂĄ sem dĂșvida exacerbado por uma felicidade sinistra, como ninguĂ©m experimentou comparĂĄvel, Ă  medida do solitĂĄrio por excelĂȘncia, erguido diante da humanidade toda, semelhante a um deus entronizado no medo, num pĂąnico omnipotente,

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Um Homem Realizado

Ao indivĂ­duo acostumado ao Ă­ntimo das profundidades, o «mistĂ©rio» nĂŁo intimida; nĂŁo fala dele e nĂŁo sabe o que seja: vive-o… A realidade em que se move nĂŁo comporta outra: nĂŁo tem uma zona inferior nem um alĂ©m: estĂĄ abaixo de tudo e para alĂ©m de tudo. Farto de transcendĂȘncia, superior Ă s operaçÔes do espĂ­rito e Ă s servidĂ”es que se lhe associam, repousa na sua curiosidade inexaurĂ­vel… Nem a religiĂŁo nem a metafĂ­sica o intrigam: o que poderia sondar ele que se encontra jĂĄ em pleno insondĂĄvel? Cumulado, estĂĄ-o sem dĂșvida; mas ignora se continua a existir.
Afirmamo-nos na medida em que, por trĂĄs de uma realidade dada, perseguimos uma outra e em que, para alĂ©m do prĂłprio absoluto, continuamos Ă  procura. A teologia detĂ©m-se em Deus? De maneira nenhuma. Quer remontar mais alto, tal como a metafĂ­sica que, ao mesmo tempo que investiga a essĂȘncia, nĂŁo se digna fixar-se nela. Uma e outra temem ancorar num princĂ­pio Ășltimo; passam de segredo em segredo; incensam o inexplicĂĄvel e abusam dele sem pudor. O mistĂ©rio, que oferenda! Mas que maldição pensar tĂȘ-lo atingido, imaginar que o conhecemos e que poderemos residir nele! JĂĄ nĂŁo hĂĄ que procurar: aĂ­ estĂĄ ele,

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