Progresso Aparente
O homem progride em todos os sentidos. Domina a matĂ©ria, Ă© incontestável, mas ainda nĂŁo se sabe dominar a si mesmo. Sim, façam-se caminhos de ferro e telĂ©grafos, atravessem-se num abrir e fechar de olhos terras e mares, mas dirijam-se tambĂ©m as paixões como se conduzem os aerĂłstatos: abulam-se sobretudo as paixões malignas que, apesar das máximas liberais e fraternas da nossa Ă©poca, ainda nĂŁo perderam o seu domĂnio detestável sobre os nossos corações. É nisso que reside o verdadeiro progresso, e atĂ© a verdadeira felicidade! Mas, pelo contrário, atĂ© parece que os nossos instintos de cobiça e de gozo egoĂsta foram infindamente ainda mais excitados por todas estas inovações materiais.
O desejo de uma felicidade impossĂvel, que seria obtida independentemente na satisfação que nos vem da paz da alma, Ă© indissociável já de qualquer nova descoberta e parece fazer retroceder no tempo a quimera desse paraĂso dos sentidos.
Textos sobre Ferro de Eugène Delacroix
2 resultadosÉ por ter EspĂrito que me Aborreço
É preciso esconjurar, da forma que nos for possĂvel, este diabo de vida que nĂŁo sei porque Ă© que nos foi dada e que se torna tĂŁo facilmente amarga se nĂŁo opusermos ao tĂ©dio e aos aborrecimentos uma vontade de ferro. É preciso, numa palavra, agitar este corpo e este espĂrito que se delapidam um ao outro na estagnação e numa indolĂŞncia que se confunde com um torpor. É preciso passar, necessariamente, do descanso ao trabalho – e reciprocamente: sĂł assim estes parecerĂŁo, ao mesmo tempo, agradáveis e salutares. Um desgraçado que trabalhe sem cessar, sob o peso de tarefas inadiáveis, deve ser, sem dĂşvida, extremamente infeliz, mas um indivĂduo que nĂŁo faça mais do que divertir-se nĂŁo encontrará nas suas distracções nem prazer nem tranquilidade; sente que luta contra o tĂ©dio e que este o prende pelos cabelos – como se fosse um fantasma que se colocasse sempre por detrás de cada distracção e espreitasse por cima do nosso ombro.
NĂŁo julgue, cara amiga, que eu sĂł porque trabalho regularmente estou isento das investidas deste terrĂvel inimigo; penso que, quando se tem uma certa disposição de espĂrito, Ă© preciso termos uma imensa energia de forma a nĂŁo nos deixarmos absorver e conseguir escapar,