As Ilhas e as Flores
Percorreu um trilho ao longo da manhĂŁ e sentou-se a comer entre as azĂĄleas. Quando um dia voltasse a partir, talvez nada lhe fizesse tanta falta como as flores. As hortĂȘnsias e as ĂĄrvores-de-fogo, as beladonas e as camĂ©lias, as magnĂłlias e as olaias: encantava-o a cadĂȘncia a que floriam naquela ilha â e depois ainda havia os hibiscos, os jarros e os mantos infinitos de erva azeda, sempre prontos a acorrer a algum sobressalto da meteorologia, para que nunca faltasse a cor.
Podia dizer-se o que se quisesse sobre as ilhas, menos que fossem claustrofĂłbicas. NĂŁo as ilhas onde houvesse flores.
Textos sobre Flores de Joel Neto
2 resultadosA GĂ©nese de um Povo
A refeição chegou muito tempo depois, fumegante, num alguidar de barro de cujo interior provinham diferentes odores a infùncia e a flores. A sua chegada, a sala inteira pareceu aquecer-se. Como em criança, José Artur pegou numa fatia do pão doce cortado à sua frente e colocou-a no fundo do prato, derramando sobre ela sucessivas conchas do caldo em que a carne mergulhava. Depois ergueu gravemente um dos pedaços dessa carne e passou-o para o prato também.
Levou o garfo Ă boca e fechou os olhos, a manteiga e o cravo-da-Ăndia e o toucinho de fumo diluindo-se e recombinando-se numa afluĂȘncia de sabores que se metamorfoseava. Ganhavam, perdiam e recuperavam cambiantes, Ă medida que entravam em acção novos ingredientes ainda, o vinho e a pimenta da Jamaica e a cebola e a banha de porco e de novo a carne, magnĂfica, derretendo-se-lhe na boca e fundindo-se com ela, como se ele tivesse, finalmente, atingido terra firme.
Comeu atĂ© ao fim, numa voragem antiga, e depois pegou nos Ășltimos pedacinhos do pĂŁo doce e pĂŽs-se a ensopar o resto do molho, comendo-os tambĂ©m.
«Massa sovada», lembrou-se. «Massa sovada!» Sabia-lhe a terramotos e a redenção.
Chegou-se para trĂĄs.